O melhor de sempre contra o melhor de sempre. O Barcelona beneficiou de uma “batota”.

“Desde sempre, mas talvez com maior relevância desde o fenómeno Mourinho que o público em geral tem a tentação de elevar os treinadores à condição de deuses. Não necessariamente no bom sentido, mas no sentido de que as vitórias e as derrotas passam apenas pela sua performance, ignorando que são homens / mulheres que jogam o jogo e não máquinas comandadas por estrategas.
É por isso que nas caixas de comentários continuam os argumentos de que X é bom porque venceu 3 campeonatos, ou Y é mau porque em 5 anos apenas venceu 2. Como se o jogo fosse treinadores contra treinadores, quando são jogadores contra jogadores.
O treinador deve ser avaliado pelo processo. Pela organização da sua equipa. Nunca pelo resultado, não ignorando que com organização garantidamente que obterá bons resultados para o contexto que exerce.
Na época transacta, por exemplo, viu-se Jorge Jesus ser considerado responsável pelos únicos pontos que perdeu em toda a segunda volta até se sagrar campeão nacional. Num jogo em que o seu avançado falha um penalty no último minuto. E se Cardozo tivesse acertado na rede. O treinador era bom? Ou o exemplo perfeito. Quando há dois anos Vitor Pereira foi incompetente durante uma época inteira depois de Jackson ter perdido 4 pontos em penaltys, para voltar a ser um bom treinador, depois de Artur Moraes ter tornado um belíssimo treinador num incompetente (que perdeu um jogo em trinta e contra uma das melhores equipas de toda a história em Portugal, que alinhava com Hélton, Danilo, Alex, Mangala, Otamendi, Lucho, Moutinho, Fernando, James, Jackson, Varela. Coisa / Milhões pouca / poucos). Para o público em geral só há um treinador bom por cada Liga. E só se percebe quem é o bom quando acaba o campeonato. Nada mais errado, obviamente. Estes erros de avaliação grosseiros revelam não só um total desconhecimento do que é o trabalho do treinador, como surgem maioritariamente associados a uma incapacidade gritante para perceber a qualidade dos jogadores. Normalmente os “seus” jogadores são todos craques e melhores que os do adversário. Logo, a incompetência será sempre do treinador. Por exemplo, Jesus foi tornado réu por não ter sido campeão num ano em que do seu plantel inteiro só um, dois, máximo dos máximos três jogadores do seu onze entrariam na equipa de quem se sagrou campeão. Claro que na altura bateram muito por aqui. Sobretudo quando se elegia James como estratosférico e o melhor da Liga. Hoje, apenas porque alguém pagou um valor estapafúrdio talvez já seja bom. Antes não era…
Ao treinador compete dar armas (organização) para que os seus atletas sejam mais do que individualidades no campo, mas que se saibam relacionar entre si, com princípios colectivos. Que ocupem o espaço e se movimentem com e sem bola, ofensivamente e defensivamente, de acordo com ideias comuns. Neste espaço valorizamos os que para além de conseguirem criar estes princípios, o façam em todos os momentos do jogo. Tratem todos os momentos com a devida importância, e que como tal tenham a equipa preparada para jogar o que o jogo der. Conseguindo isso, o melhor treinador do mundo pode perfeitamente perder com o pior. É que são humanos que jogam o jogo.”
O texto apresentado tem algum tempo. Hoje retiraria apenas uma palavra. Ou acrescentaria. Não são apenas humanos que jogam  o jogo. Há também Messi.
Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

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