O “banho táctico” de Rui Vitória.

É o habitual. Sempre que uma equipa vence de forma mais ou menos inesperada o seu adversário, mesmo que tenha os melhores jogadores, ouve-se sempre falar em banho táctico por parte de uma larga franja de adeptos, que naturalmente têm imensas dificuldades em perceber sequer o que é um jogo de futebol.
Não estando definido em qualquer espaço o que é um “banho táctico”, arrisco afirmar, que se tal existe, não pode nunca ser apelido de uma equipa que joga apenas um momento do jogo. Seja ele qual for. 
No caso do SL Benfica em Braga, há que destacar a imensa categoria apresentada na hora de defender a sua própria baliza. Em organização defensiva as duas linhas (defensiva e meio campo) sempre muito próximas em largura e em profundidade, impediram completamente o Braga de em Organização Ofensiva entrar no bloco do SL Benfica. Obrigaram a equipa arsenalista a jogar sempre por fora (foi mérito da organização do Benfica), e consequentemente e ter situações de jogo cujas probabilidades de sucesso seriam menores do que se conseguissem entrar no bloco e ficar com apenas a linha defensiva atrás da linha da bola, estando o portador enquadrado no corredor central.
Em tudo o mais, zero o Benfica. Transição ofensiva, zero. Nem sequer houve vontade de a fazer. Provavelmente porque hoje é uma equipa que percebe não ter qualidade táctica para jogar o que o jogo pede, mesmo contra um Braga. Provavelmente porque Rui Vitória e os seus jogadores anteviram que não têm qualidade para defender atacando. Com bola, portanto. Abrindo a equipa nos momentos ofensivos, como fazem todas as boas equipas do mundo.
Marcando dois golos de forma mais ou menos fortuíta, estando a vencer por dois a zero, não se pode condenar a estratégia. Sobretudo porque mostrou competência na estratégia que definiu (jogar apenas em organização defensiva) estando a vencer por dois a zero. Seria a mesma, mesmo com o jogo empatado ou vitória apenas por um? Nunca se saberá.
Mas, será o caminho de quem está a ganhar, tendo qualidade para defender, limitar-se a um momento do jogo, toda a partida? Não de forma alguma. Apenas para as más equipas. Uma equipa que dá banhos tácticos, joga em todos os momentos. Sai para transição com objectividade e quando percebe que não chega rápido à baliza adversária, sobe e guarda a bola. Quando a perde, está organizada para a perda e assegura uma transição defensiva eficiente, até chegar toda a gente atrás da linha da bola e voltar a ficar em organização defensiva. Uma boa equipa tacticamente, refira-se. Uma má equipa tácticamente, escolhe um ou outro momento mais seguro, porque não tem argumentos nos outros, joga-o e reza. 
Mas porque esta questão de fé, se afinal até houve / há competência na organização defensiva, quando se abdica de jogar? Sobretudo porque é muito complicado mesmo para quem defende bem, estar quase noventa minutos apenas a defender sem sofrer calafrios / golos. 
Ontem, o Benfica mostrou muita competência no momento do jogo que jogou. Ainda assim, só em bolas ao poste daria para virar o resultado. Não foi demérito do Benfica em organização defensiva. Foi sim, porque estar a defender o tempo todo, obriga sempre a que os lances apareçam. E esse é um risco que quem não demonstra competência táctica para o que o jogo pede corre.
Em 2008, o Benfica deslocou-se ao Minho com Quique Sanchez Flores ao leme. O espanhol defrontava alguém que em surdina já se dizia estar a caminho de Lisboa. O jogo foi em tudo idêntico ao desta época. Aos quinze minutos de forma meio furtuíta estava dois zero. Até final uma equipa jogou e foi falhando bolas de golo atrás de bolas de golo, e outra defendeu como pôde e como sabia. Um banho táctico, também afirmaram na altura. Um banho que todavia não levou os responsáveis do Benfica a mudar a agulhas. Um ano depois o SL Benfica sagrar-se-ia campeão nacional pela segunda vez em quase duas décadas. 

Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

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