A capital de Abel

Quarta deslocação de Abel a Lisboa para defrontar os grandes, onde por apenas uma vez perdeu, e mais um jogo em que para além de não sair derrotado, estrategicamente sai por cima.

Falou em “novas nuances que o adversário não conseguiu parar”. Mas, afinal, o que trouxe de diferente a Alvalade?

Um pouco à semelhança de Sérgio Conceição, trouxe para a posição de segundo avançado um jogador com perfil de médio centro, capaz de se manter concentrado e pensar o jogo mais vezes, do ponto de vista da ocupação do espaço. Fransérgio como Herrera no jogo que o Porto realizou em Alvalade, ocupou em situações de pressing uma posição mais adiantada, saindo para roubar ao central adversário, mas demonstrando capacidade para voltar e fechar o corredor central com mais um elemento, articulando o baixar para a linha média, sempre que Vukcevik ou Danilo saíam na bola.

Foi sobretudo defensivamente que o Braga esteve a um grande nível em Alvalade. Campo muito curto, que lhe garantia vantagem espacial e numérica no centro do jogo, ao que se seguiam inúmeras recuperações e saídas em transição bem definidas até ao momento da finalização. Pareceu sempre mais próximo do golo a cada transição ofensiva porque ao contrário do Sporting que atacava contra onze, as suas recuperações permitiam-lhe atacar contra menos opositores.

O Sporting novamente sem Fábio Coentrão e sem Mathieu, o que acabou também por ser importante porque quem os substituiu tem mais erro técnico, e menos capacidade para perturbar a boa estrutura que montou Abel.

No fundo, mais do que ter havido um Sporting incapaz de parar o Braga, verificou-se muito mais um Braga capaz de parar a equipa leonina, reduzindo-lhe bastante o número de entradas em zonas de criação e consequentemente o de oportunidades.

 

Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

7 Comentários

  1. Muito interessante esta análise. Era porreiro também terem abordado a alteração tática do Braga após o golo do Sporting, que permitiu a reviravolta. A colocação de Esgaio a lateral esquerdo e Horta a lateral direito, ambos como falsos laterais e claramente de propensao ofensiva, permitiu ganhar numero no meio campo ofensivo e na pressao ao adversário, sendo que Vukcevic recuava na fase de construçao para o meio dos centrais e permitia algo muito parecido com um 3-4-3.

    O desenho que Abel fez no seu caderno no banco acabou por dar frutos, e após a alteraçao, começaram a surgir os lances de perigo, sendo o primeiro protagonizado precisamente por Esgaio numa diagonal a aparecer na entrada da area, e no seguimento, Horta, tambem à entrada da área, a atirar para fora.

  2. Tal como diz o Rui Alves, esta análise, sendo interssante, aplica-se “apenas” até às alterações táticas produzidas por Abel – particularmente com a saída de Goiano e a entrada de Fábio Martins. Daí em diante, foi um Braga com linhas mais adiantadas, pressionando mais à frente (e conquistando a bola em zonas mais avançadas), com domínio claro do jogo e com criação de vários lances de finalização. E o Sporting, nessa altura, não teve capacidade de resposta.

  3. Posso estar totalmente enganado mas esta nuance tem direitos de autor, foi exatamente o mesmo que o Sérgio Conceição fez, quando o fc porto veio jogar a alvalade, ao colocar o Herrera na posição em que o Fransérgio jogou.

  4. Caro, Pedro.
    Também me parece que a afirmação de Abel dizia respeito à fase em que alterou o desenho táctico com a entrada do Fábio Martins e passou a jogar com 3 centrais e Esgaio e Horta nas faixas com Fábio Martins e Teixeira no apoio central a Dyego Sousa, ficando Danilo e Fransérgio no meio.
    Antes disso, e ao contrário da análise, a sensação que tive no estádio foi que o jogo estava relativamente fácil para o Sporting porque cada vez que acelerava com movimento interior de um extremo e aproximação de Bruno Fernandes, as linhas do Braga eram facilmente ultrapassadas.
    Acho que seria também relevante analisar a alteração que Jesus efectuou no momento imediatamente após o 1-0. Entrou para a 2a parte com B. César na esquerda, Gelson na direita e Podence perto de Bas Dost, mas logo após o golo, e sem que o Braga tivesse ainda alterado alguma coisa, passou Gelson para a esquerda, Podence para a direita e Bruno César para o meio aproximando-o de Bruno Fernandes e perdendo a referência de Podence para ligar o jogo. O que, honestamente, apenas resultou num assumido recuo da equipa.
    Com a variação táctica de Abel, Jesus nada alterou e ficou à mercê de um meio campo fisicamente esgotado com Battaglia, Fernandes e César. E foi esse esgotamento físico e a falta de frescura mental que fez com que Battaglia saísse ao Teixeira, quando já estavam 2 jogadores do Sporting por perto, abrindo o espaço para Danilo entrar na área e ganhar o penalty.
    Fica a ideia de que o plantel ainda é curto e que Jesus não confia nas 3as linhas (Palhinha, Petrovic).
    Um abraço e continuação de bom trabalho.

  5. Não deixa de ser curioso ver que no Braga o Danilo volta a dar cartas, não digo isto pelo golo, mas sim pelas suas ações a rapidez com que queima linhas em progressão e a sua capacidade penso que era este Danilo que o Vitória ansiava o ano passado … o que se passou para não se ver durante meia época no benfica e mais um mistério por esclarecer …
    Muito interessante o jogo do esgaio… tacticamente irrepreensível e ao nível do cruzamento arrisco me a dizer que só perde para o Nelson Semedo, muito superior ao cancelo ao cedric ou ao Ricardo Pereira…
    O que me leva também a colocar a seguinte pergunta em cima da mesa, num cenário em que no final da época não estando Coentrão ao seu melhor, contando com o raphael guerreiro recuperado o esgaio ou Ricardo Pereira não poderiam até acrescentar mais que Eliseu ou Antunes, são jogadores que até tem rotinas a jogar na esquerda o Ricardo Pereira deu nas vistas em franca nessa posição …

  6. “o que se passou para não se ver durante meia época no benfica e mais um mistério por esclarecer …”

    Estimulos do treinador….sobretudo tácticos

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