O dedo de Mourinho

O derby de Manchester teve uma “remontada” com sotaque Francês e dedo Português.

Uma 1ª parte com muita bola, como seria de esperar, para o City. Mourinho esticou a equipa em campo de forma a condicionar desde a 1ª fase de construção a equipa de Pep e poucas foram as vezes que teve sucesso. Quando o City saía criava muito perigo e era visível a lentidão com que o United se reposicionava, raramente conseguiu sair em transição e das poucas vezes que tinha bola mostrava que talvez consiga ter outra ideia num futuro próximo, mas era muito pouco para incomodar Ederson.

Intervalo e dois golos para o City, um de bola parada e outro num erro que inicia em De Gea. A primeira metade revelou um United muito inseguro com bola e com a linha defensiva a baixar demasiado e muitas vezes completamente descoordenada, com comportamentos que a desequilibram e que lhe podia ter custado mais uns golos.

1ª parte

 

A segunda parte inicia com um lance de golo para o City, mas longe de se deixar abater animicamente por estar a perder 2-0 em casa do futuro campeão e sem querer participar na festa que se preparava, Mourinho apresentou o seu plano alternativo. A linha defensiva apareceu mais subida e confiante com bola. A pressão deixou de ser a campo inteiro e a equipa ficou mais compacta. Para além de ser notório o aumentar dos níveis de agressividade e velocidade sob o portador deslocou Lukaku para uma ala quando sem bola. Lingard que iniciou à direita passou para o centro e condicionava a saída de um dos centrais.

Lukaku passou a ser a referência para a saída em transição e sem estar apertado pelos centrais tinha os rápidos Sanchez e Lingard muito próximos. Pogba um pouco mais á frente foi um elemento fundamental pois com uma fantástica capacidade de chegada à área adversária fez o United crescer no campo. Depois de 2 golos do Francês e do completar da reviravolta com um golo de bola parada, o United revelou capacidade de sofrimento e alguma sorte que, dá muito trabalho. Poderia ter perdido e por números bem maiores, no entanto o dedo de Mourinho foi visível e mudou a corrente do jogo.

Em Setembro dizíamos:

Por todo o mundo, e Portugal não foge à regra, há uma facção pro Mourinho e outra pro Guardiola. Dois estilos bastante diferentes, mas com algo muito grande em comum. Inteligência suprema para depois de definidos os caminhos a percorrer, os trilhar. A forma soberba como ambas as equipas se reforçaram, com base no estilo muito específico de jogo de cada uma das ideias dos seus treinadores, assim o indicia.

Enquanto Pep prepara um jogo total. De inteligência a todo o instante, o português a preparar-se para enganar opositores internos, que não percebem que ter a bola e a equipa aberta perante o United é o primeiro passo para perder o jogo.

Não há nem nunca haverá apenas um caminho para a vitória. Desengane-se quem pensa que Mourinho não voltará a ganhar… Até porque em dois anos de United só lhe falta a premier league e a taça de Inglaterra, que ainda pode ser ganha este ano. Com mais um pouco de qualidade nas laterais e mudanças de alguns comportamentos na linha defensiva, poderá ter sido este o jogo que indicia o United que ai vem??!!

2ª parte

 

 

 

 

Sobre Dejan Savicevic 91 artigos
Ricardo Galeiras Treinador, apaixonado por desporto, futebol e treino. Experiência em campeonatos nacionais na formação e atualmente ativo no futebol sénior. Colaborador na área de scouting e análise de jogo, com vários treinadores e equipas do campeonato nacional da Primeira Liga. Contacto: galeiras@gmail.com

7 Comentários

  1. Lendo diariamente as vossas publicações e as de vários outros sites, jornais, revistas, bem como ouvindo inúmeras declarações de José Mourinho, de flash-interviews a conferências de imprensa a entrevistas fora do jogo sobre a sua forma de ver o trieno e o jogo, alterações metodológicas, etc, creio que ele se poderá estar atualmente a “sacrificar” por um bem maior, que se verá daqui a 1, 2 ou 3 épocas, altura em que nem o próprio poderá lá estar.
    Partilho da opinião de que, mais do que preocupações táticas e técnicas, que estarão sempre presentes nas suas decisões e são o objeto de análise de jogo para jogo, a sua maior preocupação é mental, psicológica e diz respeito ao ambiente organizacional do clube num período de tempo bem mais alargado do que a semana ou o mês. Depois de várias leituras, creio que a sua preocupação é a de construir um plantel com uma cultura vencedora e com jogadores adultos, procurando responsabilizá-los constantemente, conferindo-lhes para isso uma autonomia diária, presente até nessas decisões táticas e técnicas de que falei acima.
    Passando a esta parte e procurando interligar tudo o que citei, não vemos atualmente um Manchester United com uma linha defensiva e/ou com referências zonais quando em organização defensiva, mesmo sabendo nós e tendo bastantes exemplos atuais de que adotar esse método defensivo tem bastantes vantagens, talvez até mais do que as referências individuais. Várias foram as situações esta época em que jogadores adversários criaram perigo por vermos a ausência de linha, mas sim uma preocupação constante em controlar o adversário direto, expondo-se à velha máxima de que “quem age será sempre mais rápido do que quem reage”… Mas ainda assim, José Mourinho continua a optar pela mesma.
    E sabendo nós do valor, do quão meticuoloso e organizado José Mourinho é e do conhecimento do jogo que tem, pergunto-me: por que continua a optar por este método defensivo?
    Vendo do ponto de vista mental, psicológico e de responsabilização de que falei, parece-me que esta opção, no meio de tantas outras inclusivamente ofensivas, pretende, e reforçando, que cada um dos jogadores seja constantemente colocado à prova pela concentração e pela correta e rápida identificação das referências bola-colega-adversário-espaço (e não espaço-adversário, que sendo também complexa, não é tanto como a primeira) que o método H-H pressupõe.
    Mourinho lidera pela descoberta-guiada. Mesmo em organização ofensiva não se vêm também posicionamentos, movimentos ou dinâmicas minimamente padronizadas, como se vêm no City de Guardiola (que mesmo assim, pela quantidade/diversidade de dinâmicas e pela eficácia com que são implementadas, torna o City muito difícil de defender). Num dia “não” a ausência desses princípios coletivos pode colocar em causa o rendimento no jogo, mas num dia “sim” esta é uma ferramenta poderosíssima pela imprevisibilidade que assegura.
    Voltando ao início, e em jeito de balanço, quando falo em “sacrificar-se por um bem maior” refiro-me à capacidade de solucionar problemas que cada um dos seus jogadores e a sua equipa no geral terá no futuro. Mourinho aborda metodologicamente o treino como os treinadores de formação deveriam abordar quanto mais jovens são os atletas – descoberta-guiada. Por tal não acontecer já há alguns anos, Mourinho vê-se ainda este ano com atletas com uma baixa capacidade para solucionar por eles os problemas que o jogo lhes coloca. Mas como será daqui a umas épocas?
    Mais do que um comentário, foi um desabafo

    • Ponto de vista bastante interessante. No entanto, relativamente às marcações individuais, penso que o crescimento dos jogadores não pode único o motivo que o leva a optar por esta abordagem. Concordo que, de facto, poderá contribuir para isso, mas Mourinho é demasiado focado no resultado. Acho que ele acredita que HH em certos casos o aproxima da vitória

      • Neste jogo em concreto, o que o aproximou da vitória, foram os dois ou três falhanços do Sterling na 1ª parte porque, mais importante que tudo o resto, o principal barómetro da qualidade de uma equipa (para mim,claro) serão o nº de oportunidades de golo criadas durante o jogo e, neste caso, o City “só” não goleou porque faltou qualidade no capítulo do remate.
        Será que este post continuaria a fazer sentido?

        Abraço

        • Na nossa opinião, o cerne da questão está apenas na mudança que Mourinho faz ao intervalo. Certamente que a ideia inicial não foi ganhar o jogo, mas sim equilibrar “as águas”. Resultou numa vitória porque tudo conjugado, falhanços do City e dois golos em 5 minutos transformaram o jogo. Mas o certo é que essa transformação teve o dedo dele, isso ninguém pode negar.

    • João, um comentário destes merece a nossa estima. Um abraço por cá apareceres todos os dias! É nossa convicção que Mourinho não desaprendeu. Adaptou algumas coisas que muita gente não admira e não gosta de ver, mas o certo é que lhe trouxe resultados e isso é o que importa em rendimento! Como dizemos em cima, não há um só caminho para o sucesso! Abraço

    • Saludos! Visto el partido, creo que el Manchester United tuvo la idea de igualar en número el centro del campo, por eso jugó Ander Herrera, y tuvo problemas cuando el City le generó superioridades (como se puede ver en el vídeo con Bailly). Aún así, creo que el equipo trabajó bien en la zona de balón, y dificultó al City el cambio de orientación para encontrar el hombre libre.

      Por otro lado, qué poca capacidad de los centrales del MU para sacar el balón jugado, nunca lo entregan en ventaja, son todo pases horizontales o a los laterales, muy fáciles de presionar.

      @Joao a que te refieres con “descubierta guiada”? Creo que es un debate interesante, en periodos de formación, creo que el H-H es interesante y ayuda al jugador a responsabilizarse y mejorar en los duelos individuales, pero también creo que es importante que los jugadores sepan defender zonalmente, en función del balón-rival-espacio. Que opináis vosotros?

      Saludos!

  2. Jaime, completamente de acordo. As opções dele serão sempre para aproximar a sua equipa da vitória no jogo seguinte. Contudo, não me refiro apenas a esta opção tática de como abordar defensivamente o jogo – marcação zonal ou H-H. Foi apenas para exemplificar, pegando numa opção sua que inclusivamente vem sendo criticada ao longo desta época no que toca aos 4 defesas (e não linha defensiva) porque parece que atualmente quando não se vê uma linha no verdadeiro sentido da palavra parece que não se sabe defender. E é verdade que em alguns casos essa opção leva a que sofram golos ou enfrentem situações de perigo.
    Eu pessoalmente prefiro referências zonas – linha – no que diz respeito ao setor defensivo.
    Ainda assim, mesmo em jogos em que a defesa H-H acaba por comprometer numa ou outra situação e em que nos parecia lógico que optar por uma defesa em linha fosse o mais indicado, por uma ou outra razão, ele continua a optar pela primeira.
    Mas mesmo pegando no processo ofensivo, noto uma variabilidade demasiado grande para se dizer que esta ou aquela dinâmica foram treinadas e indicadas pelo treinador. Pelo contrário, e com base no que vou lendo, parece-me que Mourinho recria determinadas situações em treino, ao pormenor certamente, mas com o objetivo de que os atletas descubram formas e estratégias para as solucionar – descoberta-guiada.
    Nesse sentido, e recordando os tempos do Porto e da primeira passagem pelo Chelsea, Mourinho revolucionou o treino e o jogo por ter uma identidade coletiva marcada por princípios mais padronizados que eram identificados por todos, se assim podemos dizer (uma proposta metodológica de treino mais fechada – modelo de jogo), que o levou à conquista de tantos títulos e o elevou ao patamar em que está hoje.
    Hoje em dia vemos um Manchester que está sempre dependente da inspiração dos jogadores e da forma como cada um deles interpreta de forma conjunta a situação que tem pela frente, o que tem levado a que alguns o critiquem pela falta de “identidade”. Para além disto, expõe-se jogo após jogo à possibilidade de o elogiarem por continuar a ser um revolucionário do jogo – com o qual continuo a concordar (!) (quando os jogadores revelam essa inspiração e conseguem solucionar os problemas) ou de o criticarem por estar ultrapassado (quando os jogadores não a revelam nem conseguem resolver os problemas).
    É por este ponto de vista que defendo Mourinho como um treinador que continua a ser um revolucionário porque, mesmo sabendo que poderia “fechar” o seu jogo, tornando-o mais previsível mas garantindo que todos os jogadores o interpretavam da mesma forma e se ajustavam constante, Mourinho prefere levar à vante outra máxima – “são os jogadores que jogam”, nunca preterindo do resultado do jogo, claro, mas sabendo que esta sua abordagem requer tempo para que se consiga chegar ao patamar de excelência que ele almeja, ainda mais pela inabituação dos mesmos jogadores a tal metodologia (não lhes dizer como é para fazer, mas levá-los a descobrir qual a forma de o fazer).
    Creio que só daqui a 2 ou 3 anos conseguiremos avaliar a influência que esta abordagem ao treino e ao jogo teve nos jogadores e no coletivo.

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  1. O golo que resolveu o clássico… – Lateral Esquerdo

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