O efeito Petit – Desmistificando a ideia

Boavista, Tondela, Moreirense e novamente Moreirense. Foram quatro autênticos milagres aquilo que Petit conseguiu ao leme destas equipas, conseguindo-as salvar da descida de divisão. Os factos são estes e ninguém os pode negar. Muitas vezes rotulado de treinador defensivo e com a agressividade como a imagem de marca das suas equipas, pelo passado que teve como jogador e agora associado ao seu trabalho como treinador, não goza da imagem, das oportunidades e do protagonismo que outros treinadores têm tido ao longo das épocas, possivelmente também pela sua personalidade e pelo seu perfil tranquilo, não querendo promover aquilo que é o seu trabalho e permanecendo na sombra. Mas pergunto-me, será que afinal o trabalho de Petit e sua equipa técnica é apenas dotar a sua equipa de raça e agressividade? Será apenas tudo no grito? Nada mais falso, como poderemos comprovar no vídeo a que se associa o artigo.

Tive oportunidade de acompanhar um pouco do que era o processo do Moreirense e aquilo que vi, foi uma equipa consciente das suas limitações, bem organizada em termos defensivos e com ideias em termos ofensivos quer em saídas para transição, quer estando em ataque posicional. O Moreirense foi sempre uma equipa bem preparada do ponto de vista de corresponder ao que o jogo pedia. Em organização ofensiva, capacidade para criar desequilíbrios nos corredores laterais com relações e trocas posicionais interessantes entre lateral, médio interior e extremo, mas também com ideias de jogar por dentro do bloco adversário com as incursões ou dos interiores nas costas da linha média adversária ou quando os extremos se ofereciam no espaço interior para poder jogar. Protagonismo dado aos centrais na primeira fase de construção, tendo liberdade para decidir e ligar a equipa em zonas mais adiantadas, em relação também com o seu médio defensivo. Em transição ofensiva, capacidade para sair em ataque rápido ou contra ataque após recuperação. A ideia seria sempre explorar a verticalidade e velocidade dos seus elementos mais avançados, com um trabalho bem definido de ligação do primeiro passe após recuperação com o seu avançado, para jogar em quem está de frente e sair para o ataque em velocidade, etc..

O que muita gente se esquece, ou quer esquecer, é que o trabalho do treinador é em primeiro lugar, ganhar e conseguir os objectivos a que se propôs e Petit, nos projectos onde esteve inserido, nem sempre pôde pensar ou ter tempo para se ligar no lado mais estético do jogo, mas sim em ganhar fosse da maneira que fosse. Nós por cá, não somos adeptos de etiquetar treinadores só por si. Reconhecemos sempre o bom trabalho dos mesmos e procuramos perceber o porquê das coisas. Se as equipas de Petit fossem só raça, agressividade e não tivessem ideias para os vários momentos do jogo, certamente que os objectivos não seriam alcançáveis. Mas foram, com mérito, com qualidade e com uma equipa com ideias para o jogo, mesmo não tendo uma qualidade individual superiormente elevada. Podemos discordar ou não gostar dessas mesmas ideias, não podemos é mentir como vejo por aí muita gente a escrever e a debitar barbaridades em outros sites generalistas, de referência no nosso burgo. E note-se, todas as opiniões são respeitáveis, desde que feitas com boa fé e sem segundas intenções. Todos temos gostos, opiniões e diferentes formas de pensar o jogo. Não podemos é pensar que só há um jogo e só há um bom futebol. Desengane-se quem pensa assim e quem anda no futebol profissional sabe tão bem quanto eu que isto é verdade.

O vídeo abaixo mostra alguns momentos do Moreirense em ataque posicional e com algumas saídas bem definidas em transição. No grito, na raça, mas com trabalho e resultados. Se não fosse assim, os resultados não seriam positivos.

Ora espreitem lá.

 

 

1 Comentário

  1. Do muito mau futebol que vi em Paços este ano, os jogos feitos sob o comando do Petit foram, ainda assim, os menos maus. Dos três treinadores foi o único que pareceu perceber as limitações gritantes do plantel (não consigo concordar com a escolha do Xavier como revelação – é impressionante a quantidade de más decisões que toma com bola; e quando a isto se junta a ausência de espírito competitivo…). Com o Petit ainda se chegou a ver – muito espaçadamente – jogadores a procurarem entrar na área adversária com a bola controlada/em resultado de combinações. Palpita-me que com ele não teríamos descido de divisão

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