O jogo do tempo, na idade relativa

Cada vez mais se desenvolvem os jogadores do ponto de vista físico. Moda tão enraizada nos tempos mais recentes, que os próprios jogadores sentem não bastar o trabalho nos clubes, e por eles próprios procuram quem ajude ainda mais a desenvolver-lhes as capacidades condicionais.

Na base, continua-se demasiadas vezes a escolher os mais velhos e não os mais aptos. De Janeiro a Dezembro vão doze longos meses, e nas idades mais precoces nem sequer é preciso tamanha distância para que as diferenças físicas e maturacionais se façam sentir no rendimento.

Traz-se para o sistema os mais velhos e não os melhores. Porque os mais velhos são na realidade, no imediato melhores. Não há seguramente um gene que determine que os miúdos nascidos no primeiro trimestre do mês são mais talentosos. Mas são estes que acabam invariavelmente por ser escolhidos. E depois de escolhidos – trabalhados, cavando assim um fosso para outros que antes de tais escolhas até apresentavam potencial para poder chegar mais longe.

Tudo isto enquanto no topo da cadeia, no alto rendimento, não é a maturação ou o vigor físico que determina competências. Os senhores do tempo são os verdadeiros talentos. Aqueles que dominam e enquadram as suas acções no tempo e para o espaço oportuno. Que pausam e aceleram consoante o que pede o contexto, e sempre mas sempre, com um gesto técnico que tantas vezes não se desenvolve em quem coloca “pressa” em tudo o que faz.

Nas palestras que tenho dado no curso de treinadores de futebol nos diferentes níveis na Associação de Futebol de Lisboa, tenho procurado passar a importância de ignorar o resultado nas etapas mais jovens, se tal significar coarctar possibilidades de desenvolvimento aos de maior potencial.

Embora, seja importante perceber que a revolução terá sempre de começar ainda mais acima. Nenhum treinador (erradamente) pressionado por quem dirige abdicará de ter o menos importante em troca do mais importante, quando na cabeça do líder as prioridades estão trocadas.

Eis James Rodriguez, um dos senhores do tempo na sua mais recente aparição na Copa América:

Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

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