
Talento, é por vezes inato mas cada vez mais adquirido através do treino e da aprendizagem
Júlio Garganta
A concorrência é tamanha, afinal quase todos querem ser futebolistas, que se torna cada vez mais, praticamente impossível chegar ao topo e ainda mais ter impacto, sem a mentalidade devida. E mesmo por lá, questões relacionadas com motivação intrínseca continuam a fazer a diferença.
Dos 12 aos 14 foste de não marcar um único ponto para seres o melhor jogador do Estado, de todos os escalões?
Sim… mas é simples, se fizeres a matemática disso…se pensares sobre a frequência com que as crianças jogam… se queres ser um grande jogador, se treinas todos os dias 2 a 3 horas… todos os dias…no intervalo de um ano, quão melhor te tornarás? A maioria das crianças jogam 1’30”, duas vezes por semana… não é suficiente. Se treinares obsessivamente duas, três horas por dia, ao longo de um ano, de dois anos…tu dás um salto! Aparece todos os dias e faz o teu trabalho…
Kobe Bryant
Talento é cada vez mais resultado de um conjunto complexo e dinâmico de experiências, prática deliberada, coaching, eficácia, êxito e desejo de excelência:
O Talento é uma CONQUISTA
Quando jogámos contra os Lakers, estávamos em Los Angels, e eu sempre tentei trabalhar mais duro que todos os outros, foi assim que deixei a minha marca. Então, o jogo era as 7, contra os campeões. Os Lakers tinham o Kobe e o Shaq, então fui às 3 para o Estádio, e vou fazer 400 cestos antes de voltar para o quarto e me preparar para o jogo.
Quando estou a chegar ao campo, quem vejo? O Kobe, já a treinar. Ok, porreiro, é o Kobe. Calcei os meus ténis e… já alguma vez te perdeste no que estavas a fazer? Treinei por uma hora, uma hora e meia. Quando saí, fui para o vestiário e sentei-me e continuei a ouvir a bola. Este tipo ainda está a treinar?! Ele estava a treinar… já estava morto de suor quando cheguei! e continuou… e não era como se os seus movimentos estivessem lentos ou preguiçosos, ele estava a fazer movimentos do jogo! Sentei-me lá, desapertei os ténis e pensei: Quero ver quanto tempo isto demora… fiquei lá mais 25 minutos até ele acabar. Fui embora, entrei para a sauna, preparei-me para o jogo… e naquele jogo ele fez 40 pontos!
Depois do jogo pensei, eu tenho de lhe perguntar… tenho de perceber porque treina assim. Então depois do jogo… “Hey Kobe, porque ficaste tanto tempo a treinar?” “Porque te vi a entrar, e quero que saibas que não importa o quão duro venhas a trabalhar, eu estou disposto a trabalhar mais do que tu. Não te ofendas, não há nada de errado nisso, não estou a dizer que não gosto de ti como pessoa, mas tu inspiras-me a ser melhor. Foi a primeira vez que vi este nível de competitividade e pensei… eu tenho de fazer mais!
Jay Williams
Talento não é tudo, nem a única coisa a ter em conta
Júlio Garganta
após assistir aquele filme [Rudy] eu percebi que se conseguisse treinar assim tão duro todos os dias, abençoado com as armas físicas que já tinha, o que poderia ser a minha carreira? Naquele dia fiz uma promessa a mim mesmo que iria trabalhar assim tão duro todos os dias, para que quando me retirasse não tivesse arrependimentos, e a coisa mais importante para mim foi não ter nenhuma pedra por virar. Melhorar todos os dias, e se vivesse assim, ao longo do tempo vou acabar por construir algo de bom. É a minha filosofia. Se viveres a tua vida a melhorar cada dia, durante 20 anos… o que terás?
Vivemos tempos onde a confusão das redes sociais tenderá a distrair muitos dos talentosos fazendo-os crer num caminho que deve ser de facilidades porque é “giro” criar-se hype [e não apenas futebolistico] em miúdos que mesmo com um potencial imenso, têm tudo para provar.
E este texto pretende mesmo fazer parar e pensar.
Eu não me sentiria bem comigo se não estivesse a fazer tudo o que posso para ser a melhor versão de mim próprio… se sentisse que deixei algo por fazer, isso iria corroer-me. Não seria capaz de me olhar no espelho…



Este texto faz-me lembrar de jogadores como Fábio Paim, que o talento é mesmo muito, mas que nunca atingiu o seu verdadeiro potencial. A ética de trabalho é um ponto em comum na maior parte dos grandes atletas, seja em que desporto for, e é óbvio que é preciso ter muita auto-motivação, mas também ter sorte com a situação social/familiar em que se cresce.