(J)amorim

Haverá uma diferença bastante significativa entre afirmar e ser. Assim, recuperando a tão famosa auto-ajuda, de pouco servirão as enésimas repetições ao espelho de coisas como ‘sou rico’, ‘sou especial’ ou ‘sou um vencedor’. A vibração que antecede as afirmações será o mais importante, sendo que as palavras surgem em função dessa, sendo praticamente impossível que a palavra crie a vibração. Para resultados regulares a vibração será o fio-de-prumo das palavras. E, seguindo a ainda curta carreira de Rúben Amorim, e a sua fabulosa capacidade de comunicação, fica fácil de perceber o mecanismo que explicamos acima. Não é um ‘fake it til you make it‘, é puramente verdadeiro. Amorim sabe a chave, sabe o caminho. E por sabê-lo, soube construir o plantel, e modelo, como sabe inspirá-lo da tal capacidade vencedora regular que faz os campeões.

Obviamente, o Sacavenense-Sporting desta 2ª feira não será a confirmação de algo que se sente sempre que Amorim tem oportunidade de nos explicar o que pensa. Mas a sua primeira vez na Taça acaba por caminhar na mesma linha regular que o jovem técnico vem criando. (Alguns) jogadores diferentes, mesmo sistema, mesmo modelo, a mesma vibração competitiva que Rúben tem na cabeça e que transmite a todo o plantel. Não precisou assim Amorim de Palhinha a tempo inteiro e de Pote (ausente da ficha-de-jogo)para em pouco tempo conseguir agredir de forma letal a linha defensiva do Sacavenense – que se apresentou em vários momentos com 6 elementos. De forma inversa, Sporar atraía, Nuno Santos entrava, Jovane recebia entre-linhas e procurava o resultado dessa relação entre o 9 e o ala leonino. Disso, e de bolas paradas (com Coates estilo Bruno Alves ou Virgil van Dijk) o Sporting criou ainda na 1.ª parte uma vantagem confortável e justa frente a um Sacavenense que, apesar do golo de consolação, encontrou antes muitas dificuldades para tapar o espaço onde Jovane recebia e para anular os movimentos complementares de Sporar e de Nuno Santos – com os miúdos Pedro e Gonçalo a alargarem o fosso na segunda metade.

Sim, só palavras não chegariam. E a elas Rúben junta uma certeza que contagia, aliada à sabedoria de saber planear um plantel e dotá-lo de identidade e estratégias que fazem novamente os leões sonharem. Numa época em que essas certezas serão testadas, a capacidade de desvalorização dos títulos para o foco estar completamente no processo e não no resultado será essencial na altura em que o fantasma do longo jejum começar a pesar. Aí a tal vibração que Rúben emana será chave para transcender o medo. Há quem diga que é sorte, que é por acaso, que são afirmações ao espelho sem conteúdo. Well, I disagree. Esperemos para ver.

Sacavenense-Sporting, 1-7 (Iaquinta 53′; Nuno Santos 3′, Coates 26′ e 48′, Jovane g.p. 32′, Pedro Marques 86′ e 90’+1 e Gonçalo Inácio 90’+3)

Seja o primeiro a comentar

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado.


*