Superado(s)

Os golos. As vitórias. Alguém disse que rir é o melhor remédio e esse alguém é capaz de, ainda hoje, ter muita razão. A mesma que alguém que dissesse que em futebol marcar é o melhor remédio. Assim, à hora que escrevemos, o fuso horário do rescaldo da Supertaça será, ainda assim e sempre, +2. Mais dois porque o jogo de Aveiro, que opôs o FC Porto de Sérgio Conceição ao Benfica de Jorge Jesus, teve dois golos a favor da equipa azul-e-branca, e que ao ter tido esses dois golos manda todo um jogo para um registo de análise que se subjuga a esses dois golos. É assim em futebol. Falamos de identidades, de ideias, de emoções, de técnica mas… assim que há um golo, é como se tudo no jogo validasse uma identidade, uma ideia, uma emoção, ou um registo físico mais do que outro. À hora que escrevemos, lembramos, já ninguém se lembrará que o FC Porto começou o jogo com um erro incrível que já se repetiu noutros jogos. O balanceamento ofensivo (num pontapé-de-canto) foi, de novo, tanto que, importa falar, os dragões ficaram a ver o Benfica poder inaugurar o marcador. E este é um lance que se vai subjugar aos golos que aconteceram, à vitória que aconteceu (que acaba por ser justíssima) e à qualidade, ou falta dela, que as equipas apresentaram, mas do qual importa falar porque indicou, logo ali, grande parte do destino desta Supertaça.

Dispensará legendas o lance que deixou os benfiquistas exasperados. Ainda assim importa referir que a confiança que adviria do golo mais que provável devesse lá estar muito antes ainda desta jogada. E a mesma revelou que essa confiança está a léguas do Seixal.



Tempos houve em que a qualidade das duas equipas era tanta que ter um jogo destes a passar na BBC não envergonharia ninguém. Fica imensamente difícil não comparar o jogo desta quarta-feira, àquele que, por exemplo, deu um embate épico entre duas das melhores equipas que estes clubes já viram. A quem puder assistir, recomenda-se a 1.ª parte do FC Porto-Benfica de 2012/2013. Sim, aquele que lá para o fim deu o golo do Kelvin. E sim, aquele que acabou por indirectamente ou directamente criar uma série de quatro campeonatos ganhos pelo Benfica. Veja-se sem temores, sem apegos e aprecie-se. O ritmo, a qualidade, o acerto, as soluções que os jogadores criam. A forma como atacam e defendem e o que conseguem criar mesmo com organizações defensivas e individualidades de topo do outro lado. Aprecie-se, lembro, o ritmo incrível com que criam e decidem. Depois, reveja-se a Supertaça, ficando impossível de não reparar na quantidade de erros não forçados e, em comparação, na falta de soluções que os jogadores conseguem desvendar e criar.

Ainda que não se deva crucificar Uribe por tentar uma viragem do centro de jogo normal, importa lembrar que o FC Porto (apesar do resultado) foi também aqui e ali deixando a porta a um Benfica que pareceu nunca querer aproveitar. Rafa vai ganhar a bola e partir para um lance individual interessante que poderia abrir portas ao colectivo.



O FC Porto ganhou 2-0 e mereceu ganhar. É ponto assente. Num jogo marcado pelas concentrações defensivas, quem teve a bola assumia um risco alto. Não devia ser assim, importa dizer, mas as duas equipas sentiram-se muito mais confortáveis sem a bola do que com ela. E seria com ela que surgiriam os erros que desorganizariam os planos, as organizações. Começou com esse, que lembrámos acima, e que deixou o FC Porto em inferioridade (numa situação em que Conceição já tinha assumido erro próprio noutro jogo) mas o Benfica, incrivelmente, não o conseguiria aproveitar. Por falta de timing, por falta de confiança, por falta de tudo, naquela jogada ficou traçado o destino da Supertaça. No meio de alguns erros, o FC Porto emergeria do jogo como a melhor equipa. Isto porque numa escala de sentimentos a letargia, apatia, desconfiança e descrença, nunca vai ganhar à garra, à união, ao desejo de vencer porque sim e mais do que nunca. Isto porque uma não flui e a outra mexe, move-se. Numa escala de sentimentos a garra andará sempre acima da letargia, facto exemplificado por alguns erros não-forçados do FC Porto que este Benfica nunca soube aproveitar.

Incrível Rafa a quebrar a linha de meio-campo portista. Depois disso, será importante realçar a nuclear ação concertada de Pepe (a retirar profundidade) e de Mbemba a sair à bola, conseguindo uma recuperação que vai iniciar o lance do penálti. Uma ação defensiva que retirou espaço a Rafa para decidir melhor e mais rapidamente (claramente algo em que as individualidades do Benfica precisarão de melhorar na 2.ª parte da época)



E podendo errar mais do que o Benfica, e estando muito (mas mesmo muito) acima a forçar o erro e a ganhar os duelos (atente-se ao jogo de Sérgio Oliveira e ao de Taraabt, como também aos duelos que os dois protagonizaram) o FC Porto levou, durante grande parte (e especialmente num largo período da 2.ª parte) o jogo para o lado que mais lhe convinha. Podendo errar, repetimos, o facto de dar a bola para a roubar (quase a seu bel-prazer, pareceu várias vezes) mostrou que o Benfica de Jorge Jesus segue sem rumo onde se vislumbre qualquer semelhança com o futebol que já conseguiu criar. Talvez por isso qualquer conferência, flash ou declaração do técnico assente numa técnica já utilizada por Vítor Pereira e por Rui Vitória, por exemplo. Ambos passaram períodos de enorme dificuldade, marcados pelo facto do discurso dos dois ver coisas positivas onde ninguém as conseguia ver. Fake it til you make it, acabou por resultar para os dois que, com tempo, levaram os respectivos barcos a bom porto. Resta saber se Jorge Jesus conseguirá o tempo para transformar as suas palavras em realidade, para encontrar maneira de a equipa dar aquele clique.

Do lance que origina o penálti fica fácil apontar que Weigl perdeu tempo e espaço para impedir a linha de passe que se criou. Da ação da linha defensiva importará referir que duas ações antagónicas deram a possibilidade a Taremi de ficar de frente para Vlachodimos. Os centrais ficam de frente, os laterais retiram profundidade. A abordagem anterior de Pepe e Mbemba lança também a discussão sobre o que seria mais adequado neste lance.



Não era então má-fé ter-se dito que o Benfica vinha aparecendo nos seus jogos num ritmo bastante baixo, escolhendo rotas e posicionamentos dos quais não conseguia tirar vantagem. O constante afunilar, aliado a um ritmo bastante baixo de circulação e à falta de imposição do seu jogo sem bola, tiveram ontem uma correção importante e que, ainda assim, fez a sua organização defensiva estar uns furos acima do que tem estado. Maior compactação, menor tempo com bola, maior iniciativa do adversário do que é normal, levaram um Benfica que, por exemplo, preferiu não sair a jogar apoiado muitas mais vezes que o costume, a ficar de frente para o jogo. Talvez isso explique a dificuldade da equipa de Sérgio Conceição para aproveitar as inúmeras bolas que ia ganhando e para depois fazer bom uso dessas para matar um jogo que, depois do 1-0, ficou à sua mercê por várias vezes. E se fizermos excepção ao lance de Grimaldo logo a seguir ao golo inaugural (num registo de desconcentração que acontece várias vezes aos portistas pela descarga de sentimentos que marcar nestes jogos lhe traz) fica bem visível a apatia, a falta de ligação, de confiança, de crença na ideia própria, que Jesus vai tentando combater com declarações antagónicas, muitas vezes na mesma frase.

Já é por demais conhecido o ponto de vantagem que o FC Porto tira das saídas-de-bola adversárias. Corredor central bem coberto oferece saída por fora mas com tempo de a encurralar. Ação de Marega a condicionar Weigl, e de Oliveira a tirar Taraabt deixam espaço a Uribe para controlar erros. Muito do controle que os dragões exerceram veio do excelente trabalho sem bola que Sérgio exige. Jogadores sempre ligados ao jogo num posicionamento que lhes permite abafar o adversário são a mais importante criação de Conceição – da qual ele nunca abdicará.


E se Jesus vai ter tempo para criar a sua equipa de autor, não sabemos. O que sabemos é que, como as coisas estavam, ou o Benfica se apresentava a definir melhor os lances que o FC Porto ainda assim lhe ofereceu (suficientes para equilibrar o jogo) ou a partida penderia sempre para o lado de quem forçou mais erros, ganhou mais bolas no meio-campo ofensivo e que – ainda com mais dificuldades por o Benfica se apresentar mais compacto e de frente para o jogo – demonstrou muito mais entrosamento e ligação entre meio-campo e ataque. Não tanto como Sérgio gostaria, mas suficiente (mais que suficiente até) para ir manietando o ineficaz miolo do Benfica – algo que foi ainda mais visível quando Jesus decidiu desequilibrar a equipa oferecendo ao FC Porto o espaço que lhe faltou para criar. Algo que serviu para acabar de vez com alguma dúvida que pudesse haver e que também servirá para comparar e questionar o porquê de Grimaldo, na 1.ª parte, não conseguir marcar de ângulo apertado, e de Luis Diaz o ter conseguido fazer estando mais descaído até para a esquerda. Lance que, como o de Rafa com Darwin no ínicio, ou como o do mesmo Rafa no que antecedeu o golo dos dragões, demonstram o nível de confiança das equipas no plano que levaram para o relvado.

7 Comentários

  1. Depois de ler 25 comentários no último post do Laudrup estaria à espera de pelo menos alguns neste… pelos vistos os “anti tripas” e amigos estão sem net ou já nas filhoses…
    podia ser que desta vez se focassem nos argumentos e não na possível clubite do autor…

    • viajo por toda a europa, quando falo com alguém q gosta verdadeiramente de futebol e minimamente informado, o teu clube azul e bronco está fatalmente ligado á corrupção, a tríade Juve-marselha e Fóculporto. Fazem de cada jogo uma guerra, serão sempre os eternos complexados em relação ao Glorioso, como disse o V/presidente Corrupto Impune, “se não forem os super-cagões a irem apoiar o clube fora, não temos ninguém”, não têm massa crítica, nem da outra…fazem-me lembrar a Coreia do Norte, criaram uma cultura de ódio contra o Glorioso, e essa mesma cultura de merda será o vosso fim, do calheiros ao Estoril-fcp, da amarelinha do casagrande à invasão do centro de estágio dos árbitros, tiveram q encomendar o roubo dos emails e mentir e truncar estes, tentando passar a ideia (só para os labregos andrades otários) que o SLB tinha feito o mesmo que o clube da fruta andou (e anda) a fazer há 40 anos. Fraude Corrupção & Putêdo, o Gardiola bem vos conhece, e N ex-atletas agredidos e credores do clube mais labrego, provinciano e Corrupto deste planeta. quase que temos pena de vocês foi mesmo preciso muita fruta para árbitros de leste ajudarem o fcp a chegar a finais que ninguém recorda…Celtic, Mónaco, braga e um bayern em fim de ciclo. as nossas, com os gigantes da europa, Real Madrid, Barça, Man United e 100Mil ingleses em Wembley, PSV (80% da seleção Holandesa na altura) e o Milan, durante 3 anos a melhor equipa do mundo. veja os rakings da uefa, artigos do france Footbal, etc…Ô fcp “ganhou” tanto e nem sequer aprendeu a ganhar, estão falidos, para sempre ligados à Corrupção e á fantástica amarelinha (1ªs partes de M…e 2ª partes a correr q nem cavalos), enfim, serão sempre um clube provinciano, refém de um velho Corrupto impune q recebia árbitros em casa na véspera de apitarem jogos do fcp, e este ano foi preciso o marselha oferecer 6 pontos (num dos jogos o Payée no banco…o melhor jogador deles), e um Olimpiakos patético a jogar… mas nem este milhões os safam, é preciso alimentar uma SAD de pançudos gananciosos, o filho do presidente, a claque que invade tudo e a amarelinha tb não é nada barata. mais o reembolso dos 2 empréstimos obrigacionistas, e todas as dívidas a ex-treinadores e jogadores, enfim, á boa maneira labrega, empurram com a barriga, chulam o estado e quem vier depois do presidente Corrupto Impune é q vai levar com o embrulho.

  2. Já agora perguntaria ao autor do texto se concorda com a visão de Sérgio Conceição de sacrificar qualquer espécie de jogador talentoso em prol do que ele preconiza para o colectivo, como já aconteceu com Oliver ou agora com Felipe Anderson. Ou seja, Conceição servirá sempre para um Atlético Madrid mas nunca para um Real ou Barcelona pois na verdade jogadores como Messi não condicionam a saída de bola do adversário…

    • Boas PV,

      Temos constantemente alertado aqui para o facto de ser extremamente difícil de conseguir o equilíbrio entre o talento e a intensidade defensiva. Neste caso, o Sérgio Conceição não abdica da 2ª e não sou ninguém para dizer que está certo ou errado. Tem tirado vantagens e desvantagens disso.

      Se eu jogaria da mesma maneira? Dependeria sempre do contexto, dos adversários, dos jogadores. Já fui adepto de jogar de uma forma, para depois perceber que essa forma nem sempre é a mais adequada ou eficaz para o contexto onde estamos inseridos.

      Ao final serão os resultados a ditar a validade, sendo que neste caso Sérgio Conceição tem visto a sua ideia ser validada. Sendo justo, acha que o FCP tem encontrado tremendas doficuldades em ligar o jogo com os seus avançados de forma segura e constante. As saídas de Zé Luís e de Soares surgem nesse contexto, por exemplo.

      Olhando para Otávio e para Corona se vêem transformações que vão na linha do que o SC defende. Não é à toa que ontem Luis Diaz entra num contexto específico do jogo. Se me perguntas, por mim fez falta mais cedo. Mas compreendo a ideia e não a acho rudimentar.

      Um forte abraço! Obrigado pelas leituras e votos de boas festas para ti e para os teus!

  3. Boas Laudrup,

    Excelente texto (mais um) e que demonstra bem o jogo que vimos ontem.

    Pergunto-te se o registo menos “romântico/tecnicista” do Porto do SC, pode de alguma forma dificultar a sua emigração para um clube de uma liga Big 5 ou se os resultados que tem tido no FCP serão cartão de visita mais que suficiente?

    Cumprimentos

    • Olá, Celso!

      Dependerá do projecto, do contexto (poder no mercado, liberdade para contratar a gosto).

      Sinceramente, apesar de saber que há coisas que SC não abdica, o rácio/balanço das mesmas pode mudar. O seu Porto não foi algo com que sonhou e reproduziu. Muitas das coisas surgiram da necessidade e contexto (se ele pudesse ter o Alphonso Davies não comprava o Zaidu, só para dar um exemplo).

      Do que vejo acho que é inteligente e completo o suficiente para competir nas big 4 (em França já demonstrou que sim). Relembro que o próprio também disse que se pudesse jogava à Barcelona- mas tem a inteligência de saber que a reprodução forçada desse futebol que não naquele contexto/época é impossível e suicida.

      Em suma, como disse, terá que ter sorte na escolha do projeto e tempo para poder errar e transcender o erro. Pessoalmente gostava de o ver no Dortmund.

      Abraço, felizes festas!

  4. Boas Laudrup,

    Penso que o resultado foi bastante previsível, para além de me teres dito num artigo recente que o que ia fazer a diferença nesta supertaça, seria a viariável dos duelos vencidos e que neste registo o Porto é de momento a melhor equipa. Não sei se entendi bem o seguinte conceito: uma das coisas mais difíceis no modelo de Sergio é o balanço entre técnica e intensidade defensiva ? É mesmo assim tão complicado encontrar na realidade portuguesa jogadores que tragam este tipo de equilíbrio ? Admiro muito o trabalho do Sérgio, sei apreciar a sua dimensão táctica mas se conseguir tornar a sua equipa mais forte na tomada de decisões, o seu Porto seria realmente inviável para a maioria das equipas a nível nacional e muito competitivo no Europa.

    Obrigado, sempre bons artigos! Desejo a todos um Feliz Natal!

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