Chegar lá não é difícil, difícil é saber decidir

O derby de Lisboa não foi muito distinto dos últimos jogos grandes a que assistimos. Duas equipas num 3-4-3 (o Benfica a moldar-se para encaixar no Sporting), um jogo equilibrado, sem muitas oportunidades, onde o receio de arriscar e expor a linha defensiva falaram mais alto. Apesar de ser mais uma derrota do Benfica frente a um adversário direto, não se pode dizer que houvesse um justo vencedor óbvio neste jogo: o Sporting acabou por controlar mais momentos do jogo, mas o Benfica até se aproximou bastantes vezes da área dos leões, teve os seus momentos de superioridade num jogo desinspirado de parte a parte e acabou por sofrer nos últimos minutos, algo inadmissível num jogo desta importância.

Ora, se o Benfica terminou o jogo com apenas dois remates enquadrados (ambos na segunda parte), o que aconteceu nas variadas vezes que se aproximou da área dos leões, seja através de contra-ataques rápidos, ou recuperações no meio-campo ofensivo? Problemas de ligação na equipa, erros na tomada de decisão, e muita, muita “ansiedade” no momento ofensivo. Reações típicas de uma equipa sem confiança, mas que também vive muito do desequilíbrio individual, principalmente nos jogos grandes. Grandes distâncias entre os homens da frente, nomeadamente entre Darwin e os seus colegas (recorde aqui o artigo em que falei disso); falta de entrosamento nas movimentações dos diferentes jogadores, e atacando frente a uma linha defensiva que tem estado exímia em situações de igualdade ou inferioridade numérica, o Benfica teve vários lances que vão deixar Jorge Jesus de mão na cabeça quando analisar o jogo. Afinal de contas, o mais difícil para o Benfica nem tem sido chegar a zonas perigosas, ou criar situações de superioridade, o problema tem sido a definição dos lances e a falta de inspiração dos seus jogadores, ainda mais evidente quando “a bola não entra”. Veja alguns desses lances no vídeo:

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Sobre RobertPires 84 artigos
Rodrigo Carvalho. 26 anos, treinador adjunto-analista nos San Diego Loyal, EUA. @rodrigoccc97 no Twitter.

11 Comentários

  1. Como benfiquista, concordo inteiramente. No Dragão também foi um bocadinho (muito grande) assim, bem mais do que ontem, e nesse jogo Jorge Jesus teve razões para se sentir injustiçado, ou sentir que os jogadores não aproveitaram a oportunidade que tiveram de vencer, sem discussão, vencer de forma categórica. Ontem foi mais um jogo de empatas mas o Benfica joga com os jogadores que quis. Tem o plantel que desejou. Se falta talento, é por culpa própria.

    • Caro André, tem acontecido com frequência nos diferentes jogos da temporada. Não tem só a ver com qualidade individual, tal como não é só culpa do treinador, são situações treináveis, partem de erros colectivos, e depois os jogadores ou não têm as condições perfeitas para finalizar a jogada, ou têm ações deficientes.

      • “são situações treináveis, partem de erros colectivos”

        Sim, nem discuto isso (com qualquer um de vós), se assim o dizem é porque é, mas para gente destreinada ou mais ou menos ignorante como nós / eu, a imagem que fica é a de jogadores sem grande talento / intuição. Desses lances todos poderiam facilmente ter aparecido 4 ou 5 ocasiões claras de golo e dessas, 2 ou mais golos.

        No Dragão foram lances desses x (vezes) 10.

        • “Tem o plantel que desejou. Se falta talento, é por culpa própria.”
          Não concordo completamente com esta afirmação porque é muito complicado alterar toda a equipa, que em relação ao ano passado era o que o SLB precisava.

          Depois em relação à questão da tomada de decisão, estou completamente de acordo com as vossas opiniões mas também penso que a falta de confiança que corre todo o plantel pode ter algum peso.

      • Erros colectivos existem, mas mais de metade disto nao tem nada a ver com colectivo. Foram varias as transicoes semelhantes, algumas parecidas ao jogo que tiveram no Dragao, inclusive, que demonstram treino e movimentos coordenados.
        O passe do Pizzi sai curto, frocho, ou nao sai a tempo, erro colectivo?
        O Darwin tem 2 colegas ao lado a chegar, 1 a abrir na esquerda e outro a frente a entrar na profundidade, decide tentar uma finta sem nexo ja que se passasse ia parar, calcar a bola, levantar a cabeca, e so depois decidir o que fazer, que seria passar ao lado ou atras na mesma… e perde a bola num 5 vs 3.
        – O Darwin receber entre lateral e central, ganha a linha (aconteceu no dragao igual) e olhando, e com gente a chegar para receber (no caso eram “so” 3 colegas) faz um passe sem nenhum criterio, contra o defesa que esta parado a tapar a linha de passe desde o inicio… nivel juvenil.

        O erro colectivo do Benfica foram os 62%, esses e que foram um erro colectivo.

        Lembro-me de quando Salvio era a comboio na direita e o que se criticava o homem por ter problemas na decisao. Mal sabiamos nos que iamos pagar esse karma obrigando-nos contra ataques orquestrados por Gabriel e Taraabt, e conduzidos por Everton, Rafa, Darwin, Seferovic… Tudo malta fina flor na decisao.

  2. Acho que chegámos a um ponto em que os adeptos se estão a tornar cegos pela raiva, pressão e desespero.

    Fazem-se ameaças de morte ao Darwin, quando jogo após jogo, é um dos poucos que luta com tudo o que tem, contra a maré. Não é um pino de marcação como o Seferovic que não luta, perde bolas e ainda perde golos fáceis.

    O Darwin pode perder muita bola por más decisões, mas o que é facto é que a equipa não ajuda em absolutamente nada. Como se viu neste vídeo o Darwin é uma ilha. Imaginem o Seferovic naquela posição a jogar completamente sozinho? Seria ainda mais aberrante.

    Portanto, quando me falam de falta de qualidade no plantel como disseram aqui em cima “é complicado alterar a equipa toda porque era o que o SLB precisava”. Desculpem-me, mas isto é uma ignorância total do conhecimento do jogo, e sobretudo memória curta.

    Lembremo-nos que muitos dos jogadores que estiveram no desaire do ano passado, foram jogadores que estiveram na brilhante vitória do Campeonato que estávamos com 7 pontos de atraso. Lembremo-nos que esses jogadores fizeram uma primeira volta do campeonato passado IMACULADA com 16 vitórias e 1 derrota contra o Porto. E hoje, alguns deles jogam na equipa principal como Pizzi, Rafa, Grimaldo e Odysseas. E todo o resto do 11 são contratações com renome, jogadores de seleção nacional, que já provaram o seu valor no início da época, e que provam cada vez que vão às seleções.

    Dói ver um jogador como o Darwin jogar sem apoio nenhum e andar a correr feito parvo a perder bolas porque não tem a quem passar, e quando tem a quem passar decide fazer sozinho porque não confia que os colegas vão estar sequer à volta dele. É um jogador que neste jogo, jogou completamente abandonado no ataque e é normal que as recepções saiam mal, porque não tem uma referência de passe. Os jogadores estão sempre em sítios diferentes, não há um padrão e assim torna-se difícil para encaixar em qualquer equipa no Mundo.

    Outro caso surreal é o Waldschmidt, que passou de promessa a reserva num instante. Embora tenha tido COVID a verdade é que mesmo antes do Covid, Seferovic faz dois jogos a titular completamente miseráveis. Acham que é fruto do acaso o Darwin jogar melhor quando o Luca está em campo? Não!! Têm dinâmmica porque o Luca é um apoio que complementa as deficiências do Darwin e ainda tem a criatividade para colocar bolas no espaço para ele atacar.

    Outro caso de estudo é o Cebolinha. Considerado o melhor extremo do brasileirão, fez esquecer Neymar na seleção brasileira, e chega ao Benfica já marcou golos, já assistiu, mas depois perdeu-se quando a equipa se começou a perder. Colocar um extremo ofensivo, de último terço, de drible, como o Cebolinha a fazer tarefas defensivas constantemente a jogar como lateral num 3x5x2 é de uma megalomania equiparável.

    E depois criticamos a qualidade dos jogadores, criticamos a direção, criticamos a arbitragem, e não conseguimos perceber que do ponto de vista tático o Benfica não tem uma ideia de jogo.

    É a primeira vez que vejo o Benfica a jogar com 3 centrais num dérbi, como que a segurar resultado para não perder. A adaptar-se ao jogo do adversário alterando o seu esquema tático num todo.

    A colocar Cervi que tem sido pouco utilizado num esquema que nunca jogou, a tentar dar apoios ofensivos ao Darwin e defensivos ao Grimaldo. É colocar um Darwin completamente sozinho no ataque, é colocar um Rafa a jogar por dentro sem ter um Gilberto que saiba atacar a profundidade em condições. É uma anarquia de ideias total.

    Mas os adeptos preferem atacar os profissionais de futebol como o Darwin que só nesta época já tem 9 golos e 8 assistências, porque faz um jogo mau num momento em que o Benfica, num todo, NÃO TEM IDEIA DE JOGO!

    E isto ficou bem explícito neste vídeo. Obrigado lateralesquerdo!

    • É exactamente isto! Que me desculpem os autores do Lateral Esquerdo, mas o argumento da falta de qualidade do plantel do Benfica é falacioso. Desde logo porque os adversários (não só FCP, SCB e SCP, mas as demais equipas do campeonato) não têm soluções assim tão melhores. Há limitações no plantel? Claro que sim! Mas o Benfica não é o único a ter “meios-jogadores”. No entanto, noutras paragens vemos ideias colectivas que potenciam as virtudes e mascaram os defeitos dos respectivos plantéis. E aqui é que está a questão: JJ não tem acrescentado absolutamente nada. Pelo contrário, a insistência em jogadores com o perfil de Seferovic, Gabriel ou Taraabt em lugar de Waldschmidt, Florentino (e até Weigl, numa primeira fase!) ou Chiquinho é incompreensível. Ao Benfica falta, neste momento, trabalho de treinador. Do mesmo modo que se criticava – e bem! – Rui Vitória pela falta de pormenor do seu modelo, não se pode deixar passar em branco a incapacidade de Jorge Jesus em criar uma equipa com cabeça, tronco e membros apenas porque se lhe reconhece competência para trabalhar um modelo muito específico. Hoje em dia esta inflexibilidade não chega para se ser treinador de uma equipa como o Benfica. É, aliás, incompreensível que se critique os jogadores por ora saberem atacar, ora saberem defender, mas não se refira a incapacidade que JJ tem demonstrado para, também ele, ser mais do que um treinador incompleto

    • Ser uma ilha desculpa nao conseguir correr em frente com a bola?
      Ser invejoso e desperdicar lances de potencial golo quando tem passe facil E ESTA A VER, nao esta no lado cego dele(!)?
      Nao dominar uma bola que vem facil agora depende se tem um amigo que consegue ver pelo canto do olho?

      Amigo, eu entendo o que queres dizer, concordo com quase tudo no post, basta olhar o que Darwin/Cebola/Wald fizeram no post PAOK e como se esfumou “pos Bessa”. Convem perceber nao ha tambem algo ai de merito dos adversarios, que apos alguns jogos do Benfica ja nao sao surpreendidos, e apos alguns jogos de alguns destes “craques”, ja se lhes conhecem as caracteristicas e onde sao fortes. E quando se espreme isso, e se lhes dificulta estarem confortaveis no jogo (sim, o colectivo nao tem sabido ajudar a resolver esse problema), nao dao uma pa caixa. Nada. Nem uma bola facil dominam, nem um passe facil fazem. E ridiculo.

    • Os erros tecnicos nao se desculpam pelo colectivo.

      Se o treinador devia fazer melhor? Claro. Jesus e um treinador inflexivel e incapaz de se adaptar ao plantel, ele quer os jogadores ideias para jogar da maneira A, e se nao tem, adapta os jogadores a posicoes nas quais nao sabem jogar, ou pelo menos tenta. Vale tudo, menos mudar o sistema (mesmo que tenha ido a Alvalade com 3 centrais, a ideia de inflexibilidade mantem-se, este jogo e uma excepcao).

      Agora, desculpar jogadores profissionais tropecarem na bola sozinhos, nao acertarem passes de 2m, nao saberem temporizar uma jogada, respeitar o movimento do colega, etc, e impossivel. O Darwin por este andar tem tudo para ser o novo Rafa, um jogador bem caro para a nossa realidade, que da uns toques, mas que nao sabe o que fazer a bola, com debilidades tecnicas e de decisao que nunca mais evolui e que definem um jogador banal e nao um craque. Passam os anos e continuam iguais, fazem meio ano bom em 4…

      Meu querido Jonas.

    • O Benfica levou com 3 semanas horrorosas. Eu gostava de estar a discutir o crescimento da equipa após o jogo no Dragão, mas ao invés estamos a falar de uma situação em que 10 jogadores infectados, que perdem ritmo, e uma equipa técnica quase inteira (sem o treinador no banco) são obrigados a ter os mesmos resultados e os mesmos desempenhos. É impossível.

      Dito isto, acho que o SLB fez bem em planear o jogo para não perder, e esteve perto de o conseguir, sem ser um jogo extraordinário do SCP (que não consegue fazer jogos extraordinários). Teve algum azar e incompetência, mas o futebol é mesmo assim. Agora, eu vou atribuir responsabilidades e pedir o caderno de encargos quando o Benfica puder lutar de igual para igual, e espero que nos próximos meses assim seja.

  3. Temos aqui algumas verdades mas ninguém pode falar em trabalho nos treinos… Que não existem. O Benfica não tem treinado, tem recuperado e jogado. No último mês nem isto aconteceu. E não vamos fazer comparações.

    O Sporting anda a preparar e a treinar para esta época desde Março de 2020 e tem um calendário muito mais leve. Com tempo para treinar realmente. E o FCP vai para a quarta época com o mesmo treinador.

    O Braga também mudou e julgo que, por muito que o Carvalhal bata no peito, é impossível negar alguns maus resultados e exibições.

    Também não compreendo quando se diz que o Benfica foi para não perder porque entrou com três defesas. Isto é uma falácia pura. Algumas das equipas mais ofensivas que recordo actuavam com três defesas. Para além disso, durante o jogo o Benfica esteve mais tempo no meio-campo do Sporting do que ao contrário. Está bem que não foi lá uma grande diferença.

    Que o plantel do Benfica é fraco e desiquilibrado e com alguns equívocos parece-me evidente. Que o JJ todo-poderoso (ainda se fosse só para treinar e trabalhar com o que lhe dão) é a pessoa errada para mudar isto também parece-me evidente. O homem é horrível a escolher jogadores.

    Os melhores momentos do Benfica aconteceram quando se aliou a prospecção e a formação ao trabalho de campo e à equipa principal, com o treinador a funcionar nesta lógica. Ainda estou para compreender porque se mudou de caminho.

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