Canadá de Ouro!

YOKOHAMA, JAPAN - AUGUST 06: Players of Team Canada celebrate following their team's victory in the penalty shoot out in the Women's Gold Medal Match between Canada and Sweden on day fourteen of the Tokyo 2020 Olympic Games at International Stadium Yokohama on August 06, 2021 in Yokohama, Kanagawa, Japan. (Photo by Francois Nel/Getty Images)


E foi desta!
Depois de duas medalhas de bronze nos jogos Olímpicos de Londres (2012) e do Rio de Janeiro (2016), a equipa do Canadá chegou ao Ouro. Capitaneada por Christine Sinclair (a mítica Canadiense que já representou a seleção por 305 vezes e marcou 187 golos) e liderada por BREV PRIESTMAN, eliminaram Brasil (7ª), EUA (1ª) e Suécia(5ª), três potencias do futebol mundial.

A conquista do troféu foi dura. Na fase de grupos (Grupo E) defrontaram o Japão (1-1), venceram o Chile (1-2) e empataram novamente por 1-1 contra o Reino Unido com um auto-golo de Prince aos 85′, passando assim para o playoff em 2º lugar com 5 pontos (atrás do Reino Unido com 7). 4 golos marcados – 3 sofridos.


A fase de grupos não convenceu. Uma equipa que vivia muito à base da sua organização e da sua competência individual, sem nunca deslumbrar o espetador e sem nunca apresentar uma dinâmica ofensiva muito forte. A verdade é que foram sempre a equipa que a defender mais dificuldades causou aos adversários, tendo uma organização defensiva quase impenetrável, com as linhas muito próximas e uma entrega incrível nas constantes coberturas e equilíbrios que iam fazendo.

Nos quartos de final defrontaram o Brasil, a equipa que na minha opinião era a mais completa pois conciliava um enorme talento individual (como Debinha, Marta, Andressinha e Duda) com dinâmicas e um modelo muito consolidado, que potenciava as suas individualidades através da projeção das laterais e o jogo interior das extremos e muita liberdade para as Avançadas explorarem os espaços em profundidade e largura. (4x4x2 com duas linhas de 4) No entanto, era também a equipa que defendia apenas com 2 centrais +1 média e que se expunha muitas vezes na transição defensiva, e o Canadá conseguiu aguentar o seu momento defensivo e quando conseguia recuperar a bola era extremamente eficaz nas transições ofensivas com a bola a chegar às duas avançadas em 2/3 passes e num curto espaço de tempo.

Como pressionou o Canadá?

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Nesta imagem percebe-se que quando as adversárias, neste caso o Brasil, se apresentava numa linha de 4 havia uma pressão imediata e individual das duas avançadas sobre as duas centrais e a Médio ofensivo encostava na Médio mais recuada do brasil fechando assim as linhas de passe mais próximas. De realçar que a avançada que está a pressionar fecha a linha de passe para a lateral desse mesmo lado, obrigando muitas vezes a adversária a jogar para trás ou jogar longo com menos critério.

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Não jogando com extremos, e pressionando as 3 jogadoras que indicámos anteriormente, e se a bola entrasse em largura numa das laterais (como na imagem) quem saía na pressão era uma das médios interiores, sendo que a médio interior do lado contrário fechava na linha da médio defensiva para criar o equilibrio e compensar a saída da colega. A lateral acompanhava a movimentação da extremo condicionando também essa linha de passe. Esta dinâmica para além de obrigar a que existam muitas deslocações, são deslocações longas e que requerem competência física também, um dos parâmetros muito evidenciados nesta equipa do Canadá que parecia estar sempre fresca no momento defensivo, mesmo quando ofensivamente começava a cometer mais erros na decisão.

No momento de pressão houve também um elemento chave: Christine Sinclair. Inteligência, saber e experiência. A velocidade de deslocação já não é a mesma mas o número de vezes que recuperou a bola ou causou constrangimento para uma má receção ou um mau passe, foram imensas, o que proporcionava que a sua equipa conseguisse ser uma equipa perigosa em transições e que causasse constantemente situações de perigo. Alguns desses momentos na vitória sobre os EUA nas meias-finais:

A vitória sobre os EUA surge da pressão alta que causa um penalti a favor do Canadá que é então convertido por mais um dos destaques desta equipa: Jessie Fleming.

Jessie Fleming é incrível: Posicionamento, técnica e decisão.
23 anos de puro talento! (para os mais curiosos: https://www.youtube.com/watch?v=ZeDhTjhiIO4)

E com bola, como jogou o Canadá?

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Na saída, na 1ª fase de construção, projetam as laterais para a linha das médios e formam uma linha de 4, criando muitas vezes superioridade nessa zona, onde a bola é colocada rapidamente, quando a pressão das avançadas começa a chegar. Lawrence e Chapman as laterais mais utilizadas, são ambas muito fortes em condução com bola controlada mas diferem nas ligações que fazem: Chapman a ligar bem com o corredor central, jogadora que se envolve muito em tabelas e no jogo curto para progredir no terreno, enquanto que Lawrence desequilibra mais através da velocidade em progressão no momento ofensivo, acelerando tanto para o corredor central como para fora, mas sempre impondo o seu físico e capacidade de decisão em velocidade.

Na fase de criação, ultrapassada a primeira linha de pressão adversária:

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Mantém-se a linha de 4, uma das laterais projeta-se mais quando vê o espaço (nesta imagem percebe-se que Lawrence(DD) vê a vantagem numérica e espacial no corredor dela e começa a apontar) e a outra fica mais em apoio/equilíbrio, e as outras duas médias, Sinclair e Fleming, têm total liberdade para explorar atrás da linha média adversária. A profundidade e movimentos de rutura assim como a largura ficam a cabo das avançadas que muitas vezes se posicionam fora para romper para dentro, entre central e lateral.

No último terço ofensivo são práticas e maioritariamente recebem a bola no espaço em ruturas para finalizar de primeira, privilegiando muito as caracterisiticas mais fortes das duas avançadas: velocidade. Sendo que destaco neste sector Janine Beckie, a jogadora do Manchester City que consegue aliar a técnica à procura de espaços vazios e cujo timming de desmarcação é quase sempre certo. Não se destacou neste Jogos Olímpicos em particular, mas tem muita qualidade!!

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Uma equipa que venceu pelo seu coletivo. Venceu pela sua organização.
Não venceram as individualidades. Não venceu o espetáculo.
Mas venceu a entrega e competência.
O Futebol é assim!

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