
Tantos anos vivemos numa era de domínio individual no jogo. Havia sistemas, e até algumas dinâmicas que se criavam entre os próprios jogadores, ou por sugestão do treinador, mas só no presente século se sentiu em pleno a evolução do colectivo – Excepções como as equipas de Arrigo Sachi, entre outros sempre houveram, naturalmente.
E essa evolução é verdadeiramente arrebatadora. Desde a competição mais visível e de maior notoriedade, até aos escalões secundários, e até ao futebol jovem, extremamente complicado é encontrar equipas que não tenham princípios de acção comuns. Na Liga anterior tive oportunidade de ver inúmeros jogos ao pormenor e não encontrei uma equipa sem “dedo” do seu treinador. Algumas mais “rígidas” taticamente, outras mais preocupadas em integrar talento, umas mais preocupadas em defender mesmo quando atacam e outras ofensivas e com muita intenção de jogar bem com bola.
Nos tempos mais recentes, e com “toda a gente” com grande competência no domínio colectivo do jogo, volta o individual a ter de emergir para fazer a diferença. Porque coletivamente as diferenças já são pequenas entre diferentes equipas das mesmas provas – e até de provas bem díspares – volta o pormenor individual a elevar o patamar de rendimento das diferentes equipas.
Recentemente tenho tido a felicidade de realizar análises individuais com diferentes jogadores profissionais de futebol de diferentes Ligas e é impressionante perceber como o incremento da eficiência técnico-tática individual impacta também no jogo coletivo. E quão disponíveis estão os jogadores para melhorar as suas acções em campo.
No topo, pouco importa ter intenções e ideias gerais, coletivas, quando não há individualmente o domínio do pormenor. A equipa mais bem trabalhada coletivamente poderá perder por dez contra a pior, desde que as forças oponham talentos de dimensão oposta.
O jogo é mais rápido ou mais lento, não somente pela velocidade do deslocamento mas pela qualidade das acções técnicas. Não importa querer romper entre linhas quando o domínio do pormenor individual fará perder tempo, espaço ou até a bola se tal for a rota escolhida. Pelo contrário, o que é bom – A intenção de chegar a zona de criação em espaço central – vira mau – perder a posse dentro, aberto, será sempre mais arriscado do ponto de vista de ter de defender um contra ataque.
Depois do Modelo, da Estratégia, virá o desenvolvimento do individual até ao seu expoente máximo. Porque na formação se descurou o “eu” pelo “nós”, acima há que ensinar, dotar, corrigir. Para depois se repetir.
É garantindo o sucesso individual, que se chega ao sucesso coletivo. Não há sucesso de grupo sem sucesso individual. Não importa que estilo queres na tua equipa, que sistema ou até a dinâmica dos movimentos se no fim do dia não sabes como receber ou passar uma bola, ou como abordar um duelo na tua área defensiva. O resultado será igual independentemente do teu sistema ou estilo.

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