Encaixe e desencaixe no regresso ao futuro do FC Porto

Aproximam-se dois escaldantes clássicos que decidirão a Taça e muito do que resta da Liga para FC Porto e Benfica e, como normal, nos dias vindouros muito se ouvirá falar de sistemas e dinâmicas. Mais agora que Sérgio Conceição vasculhou um pouco do passado (seu e também do clube) e se decidiu por um regresso ao 433 de olhos postos no futuro e nesses dois clássicos que aí vêm. E na era do 343, o resistente FC Porto (o único grande que raramente utiliza o sistema como ponto de partida) tenta arranjar soluções sem quebrar a essência. Mas como o sistema não explicará tudo (e não garantirá nada) está (como é comum ouvirmos hoje) nas dinâmicas a chave. É então a dinâmica a capacidade de levar ou manter o jogo onde o sistema ganha vantagem. E no jogo contra o SC Braga, que foi um excelente teste para se conhecerem as valências deste 433 contra um 343/523, reparamos imediatamente que a dinâmica do FC Porto deu vantagem ao seu 433 durante a maior parte do jogo. Como já explicado (também aqui no Lateral Esquerdo, e de forma brilhante pelo Robert Pires), a pressão à saída-de-bola bracarense não deixou grandes hipóteses ao conjunto de Carvalhal. Ainda assim, os arsenalistas aguentaram grande parte do jogo sem se desequilibrar. E ainda que – como diz e bem Sérgio Conceição – este FC Porto tenha variadas soluções para quebrar organizações defensivas, é na transição ofensiva que este 433 pode realmente fazer mossa no 523 de Braga, Benfica e Sporting.

Organização ofensiva do FC Porto tentou, de várias formas, desencaixar de um Braga competente defensivamente. Contudo, apesar da variabilidade de soluções, o FC Porto acabaria por precisar das transições para criar real perigo. Uma organização ofensiva que, com a ajuda preciosa da reação à perda, garantiu um controle imperial do jogo na 1.ª parte. Nota de destaque para o encaixe dos três da frente na linha defensiva do Braga e para as chegadas de Grujic.


É comum, pelo menos aqui, fazer-se distinções quando se fala no tal sistema da moda que é o 343. É que tanto é um 343, como um 523 ou até um 541. E se nos lembrarmos que é no momento da organização ofensiva que este sistema é realmente um 343, então não é preciso um génio para sabermos que se a bola se perdeu vai haver preciosos segundos até que esse se transforme num mais equilibrado 523, 532 ou 541. Sim, são imensas as variantes, mas o que há em comum em todas é que o balanceamento dos alas e o desposicionamento dos centrais e médios que, obviamente, assumem com bola outras posições mais vantajosas a esse momento, são o calcanhar-de-aquiles deste (e de muitos outros) sistema(s). Será então bastante vantajoso que a dinâmica tenha em conta que para criar vantagem tem de forçar transições – se possível em catadupa.

Competência do FC Porto na pressão e na reação à perda conseguiu desequilibrar a organização de um Braga que ficava a meio caminho do seu 343 ofensivo e da sua linha defensiva de cinco. Dragões ultrapreparados para esse momento foram intensos e eficazes a aproveitar os espaços, criando nesse momento do jogo as suas maiores oportunidades.



Ora, essas transições não são tão possíveis assim quando uma equipa assume na sua quase totalidade a posse-de-bola. Quanto mais posse uma equipa tiver, menos espaço terá também para a sua transição ofensiva e apanhar o adversário desequilibrado. Foi comum, por exemplo, nos tempos de Jesualdo Ferreira, o FC Porto assumir, depois de se apanhar em vantagem, um bloco mais médio que permitisse ao adversário sair a jogar. E os resultados disso, como sabemos, foram imensamente vantajosos, não sendo à toa que se apelidou Jesualdo como o rei das transições. E o curioso deste cenário, é que contra o SC Braga o tão mal afamado Sérgio Conceição (tanta vez apelidado de conservador e outros que tais) assumiu na totalidade as despesas do controle de jogo com bola. Contudo, essa ideia não se materializou em tantas oportunidades assim. Mesmo apesar das soluções serem altamente interessantes (especialmente Díaz mais aberto e Grujic a chegar de trás para ferir a linha defensiva) foi em transição (com Díaz mais interior) que o Porto se revelou letal e onde conseguiu realmente levar o jogo para onde queria.

Procura do homem livre pelo FC Porto foi interessante de seguir ao longo do jogo (especialmente na primeira metade). Aqui, o encaixe na linha defensiva do Braga deixa Wendell solto. O passe de Pepe saiu um tudo ou nada longo e o brasileiro não pode soltar num ataque em igualdade numérica com os defesas de Carvalhal.



E sem essa eficácia letal na transição (também ela muito bem trabalhada, algo patente na forma rápida, directa e intencional como se desenrolou) o FC Porto deixou um jogo aberto para o Braga – na segunda metade – o levar para onde mais lhe convinha. E para isso acontecer tiveram os portistas de não aproveitar as bolas ganhas na saída-de-bola bracarense (bastantes no segundo tempo) para se ir esgotando finalmente. Aí, Carvalhal acabou por ganhar em manter o risco na aposta e empurrar o FC Porto para o seu meio-campo. E num jogo de 1-0 não se pode dizer que o Braga não tivesse chances. Foi a eficácia que manteve o jogo em aberto, mas também para um FC Porto que viu os bracarenses duas vezes bem perto do golo. E foi quando nos dragões se notaram dúvidas, e frescura, para continuar o plano, que o Braga aproveitou aquela espécie de nem é carne, nem é peixe na organização defensiva dos portistas – a mente queria mas o físico não, e o resultado levantava a dúvida no posicionamento e… na dinâmica.

O SC Braga acabaria por sobreviver à pressão do FC Porto, iniciando após a quebra física dos dragões um jogo mais aproximado àquilo que Carvalhal idealiza. Com a saída-de-bola a funcionar finalmente e com o resultado em aberto, o Braga, apesar de manietado durante a maior parte do tempo, acabaria por cima e com possibilidades de igualar e até virar a partida.

Um jogo riquíssimo tacticamente que nos dá um lançamento quase ideal para o que aí vem. E sabendo-se que o Benfica é fortíssimo na transição ofensiva, restará a dúvida de quanto se vai expôr a equipa de Jorge Jesus em organização ofensiva. Que é como saber quantas transições ofensivas o FC Porto vai ter ao seu dispôr e quantas terá de evitar para levar o jogo para onde este 433 quer ser levado. No fim ganhará sempre a dinâmica e não o sistema. Mas quais serão as dinâmicas que tirarão vantagem nesses jogos? Que é como perguntar onde estão as vantagens para Porto e Benfica perseguirem nesses jogos?

Linha de seis no controle do cruzamento não chegou para impedir um lance de golo iminente para o Braga.

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