O efeito borboleta de Díaz (e Pote) deu asas a Taremi (e Paulinho)

Todos sabemos das competências de Mehdi Taremi e de Paulinho para actuarem como pêndulos. Não só como homens-de-área (onde não são especialmente de classe mundial) mas também como organizadores do jogo ofensivo de FC Porto e Sporting. Ainda assim, muita capacidade de retenção, temporização e grande relação com o espaço onde os colegas se movimentam não fizeram deles primeiras escolhas para renderem as ausências dos dois melhores jogadores da Liga nestas últimas duas temporadas. Isto para o grande público, porque para Sérgio Conceição e Rúben Amorim – sempre bastante atentos a tudo o que pode melhorar as equipas e pouco presos a dogmas desse género – essas capacidades de organização dos dois avançados foram solução para o lugar de avançado esquerdo.

Como dito, o que pode ser surpreendente para o público em geral revelou-se uma solução bastante inteligente para os dois técnicos. Sem o rasgo de Díaz, e sem a capacidade de finalização e associação de Pote, o centro-esquerda dos dois primeiros classificados ficou orfão de certas características das quais os dois técnicos não abdicam. E a solução que Edwards (que joga preferencialmente do outro lado) e Nuno Santos (obrigado a esticar na ala esquerda quando o campeão nacional se encontra em dificuldades) não deram (tal como Pepê e Galeno) foi aproveitada pelos cerebrais Taremi e Paulinho – que agora se libertam de um espaço sempre engarrafado para encontrarem ar puro no half space entre esquerda e centro, ao mesmo tempo que perdem responsabilidade na hora da finalização (o que para os dois será uma espécie de alívio). Resultados que se viram em Paços de Ferreira, como se haviam visto na segunda metade do Sporting-Arouca em Alvalade.


Mas nem só do momento ofensivo vive a escolha. Também nos momentos de condicionar saídas, como nos momentos de reação à perda, os dois avançados são importantíssimos, sendo o garante da adição de mais um jogador fortíssimo nesses momentos. Isto porque com a ausência de Díaz, e a inclusão de Pepê (muitas vezes também com Fábio Vieira também no onze) foi inegável que o FC Porto perdeu fulgor numa das suas maiores capacidades: a de condicionar saída e reagir à perda. Algo que com Taremi em campo sobe outra vez para níveis aceitáveis para Sérgio Conceição. Em relação ao Sporting sabemos que Rúben Amorim (apesar de exteriorizar menos essa paixão) também não abdica desses encaixes feitos com extremo rigor – algo que aliás é agora paradigmático no futebol moderno e que Paulinho e Taremi oferecem com grande eficiência, capacidades que aliam também a algo que não pode faltar: a tal facilidade na retenção e a boa decisão que se segue.

Porém, se bem conhecemos o futebol actual também saberemos que o rio dificilmente se estancará. Sendo que o normal é que não passe mesmo duas vezes. A tudo isto a Liga está atenta e para tudo isto vai encontrar soluções que obriguem Sérgio e Rúben a transcenderem novamente sistemas e modelos. E quando há uns anos o futebol era glamouroso por parecer dar a oportunidade de validar uma ideia acima de todas as outras, hoje se sabe que é a capacidade de inovar e não ficar preso a dogmas que mantém os treinadores e as equipas vivas. Dito isto fica evidente que não é à toa que são Conceição e Amorim quem luta pelos títulos, eles que mesmo sendo acusados de teimosos por quem segue jogos, e mede qualidades, pelo livescore, são dos que têm mais dado ao futebol português. E a aprender essa lição segue também um projecto com imensa qualidade e que dá gosto seguir (alô Ricardo Soares!).

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