Sobre a variabilidade do Padrão do City (eliminatória Sporting vs City)

Quando vejo o jogo do City, vejo, simultaneamente, Padrão e variabilidade. Muito daquilo que acontece é, por um lado, prévio (Ideia) e Intencionalmente Colectivo, mas, por outro lado, também e muito espontâneo.


A Arte de fazer casar redundância e variabilidade, e mais, fazê-las evoluir em simultâneo, é das coisas mais difíceis mas, creio, também mais necessárias ao Futebol do futuro.

O City, não obstante ter dos melhores jogadores do mundo, elucida bem a título de exemplo esta dicotomia – padrão e variabilidade, Ideia-espontaneidade, Colectivo-Individual – onde para isso concorre e muito também a influência do TREINADOR, inclusive enquanto facilitador e promotor da espontaneidade, ainda que indirectamente.
Das palavras do próprio Rúben Amorim (e não as tenho como demagogia) quando o jornalista comenta O City parecia ter solução para tudo:

Rúben- “não tem que ver só jogadores mas também com Treinador… não consigo acompanhar o raciocínio dele”… “Por mais que fechemos no meio eles arranjam solução na ala. Se fechamos na ala, eles arranjam algo no meio. É um sentimento de impotência“.

Pós jogo

Mais que olhar para uma relação linearmente causa-efeito, ou atender ao predeterminismo de prever o que vai ser o jogo e ter um plano de jogo detalhado, creio que muito do conteúdo deste jogo e eliminatória (e não me refiro só ao concreto que é o jogo dentro das 4 linhas mas também às declarações dos treinadores, um compêndio para quem quiser reflectir sobre esta temática, deixo em baixo alguns excertos) pode servir para colocar em evidência, por um lado, a influência do imprevisível “aqui e agora” (neste caso no jogo do City) e, por outro, para reflectirmos sobre a (sub)valorização do lado circunstancial e imprevisível no futebol de hoje, bem como da importância do seu desenvolvimento e incentivo. Pergunto se a importância dada aos planos para o jogo é acompanhada da mesma importância em relação aos planos que o jogo tem para nós?

Quando falo em espontaneidade, falo nela numa relação com o Timing, neste caso, um timing que sobrecondiciona o como (execução).Nessa medida, o “como” torna-se muitas vezes altamente VARIÁVEL e Imprevisível pois o é em função do timing, da circunstância, das necessidades do aqui e agora, cuja equação é sempre infindável.

A título de exemplo, reparem pois, no timing – o qual só é possível se houver calma e se jogar descontraído – com que os jogadores do City esperam muitas vezes até ao ÚLTIMO momento, lançando primeiro o engodo, esperando ou forçando o adversário a errar. E aí, quando o adversário “dá o flanco” – subentenda-se concede uma vantagem – aplicam a sua agressividade, emergindo soluções por vezes inesperadas.


Por um lado, diria que tal só é possível com uma Ideia suficientemente aberta e, por outro lado, com um jogo mais desacelerado e por vezes mais Lento, onde a calma e o jogar descontraído (como comento no vídeo) são condições para ler bem e aplicar o acelerar no momento certo. Estas duas questões – Ideia Aberta e jogar-se descontraído – estão aliás totalmente relacionadas.

Um Padrão, necessariamente sempre diferente, mas também sempre redundante e reconhecido Colectivamente.

Um reconhecimento, certamente vivenciado, vivenciado e consciencializado, suportado numa IDEIA com Padrão -lado redundante – mas suficientemente aberta, o que levará na continuidade, ao desenvolver de uma Cultura sempre Emergente.

O Tempo é sempre o factor do qual esse desenvolvimento dependerá(sugiro também lerem as declarações de Rúben Amorim acerca desta matéria, nomeadamente acerca necessidade de tempo, quando analisa o jogo da primeira eliminatória e nomeadamente o crescimento do seu Sporting).

O mesmo Padrão de problemas e soluções requer hoje um raciocínio mais lento que o mesmo padrão de problemas e soluções proporcionado amanhã, quando a continuidade do que ontem era raciocínio, hoje, passou a ser intuitivo. E quando o que para uns ainda é raciocínio e para outros já é intuitivo torna-se de facto difícil de acompanhar, neste caso com onze cérebros(jogadores do City), que antecipam 4 a 5 acontecimentos à frente o que vai acontecer. E para isso muito contribuiu a Cultura de Jogo levada há anos no M City.

Contudo, independentemente do nível respectivo em que cada processo está, creio que a Espontaneidade, mesmo que leve a (necessários) erros de percurso, é sempre mais um aliado, e não um problema, nessa descoberta que é o desenvolver de uma Cultura, o qual envolve sempre… imprevisibilidade.

A minha reflexão é se, a TOP, no contexto de máxima pressão, onde é altamente provável e tentador de se cair na tentação de tudo querer controlar, se parece aceitar a espontaneidade como aliada para o evoluir da Ideia e lidar com a imprevisibilidade do jogo, porque está esta questão da espontaneidade, da criatividade, do Risco, do imprevisível tão subvalorizadas no futebol de hoje?

Nota: Para quem tiver interesse em aprofundar esta questão, sugiro a leitura de um artigo prévio que escrevi sobre o City de Guardiola e o Inter de Conte, onde desenvolvo uma reflexão sobre a conceptualização de Cultura Emergente e sobre a espontaneidade, fazendo-o também à luz de outros processos criativos: https://pt.carlosmiguelcoach.pt/post/inter-de-conte-e-city-de-guardiola-uma-reflex%C3%A3o-convite-ao-entendimento-da-cultura-t%C3%A1ctica-1

Carlos Miguel

www.carlosmiguelcoach.pt  | carlos_miguel10@hotmail.com

Sobre CarlosMiguel 3 artigos
"Iniciei-me como treinador no Sporting CP em 2011/12, logo após concluir o Mestrado em Treino de Alto Rendimento pela FADEUP. Seguiram-se Dragon Force-Porto, Academia Figo (China), Global Premier Soccer (EUA/Canadá) e, em 2016/17, a minha primeira experiência no futebol profissional no Zamalek SC (Egipto), como adjunto de Augusto Inácio. Em 2019/20, trabalhei na Académica Coimbra OAF, como treinador principal do escalão de sub 15. Na época transacta (2020/21), após ter estado como treinador adjunto no Episkopis FC (Grécia), acompanhei, Março, Manuel Machado no regresso deste último ao Nacional da Madeira, desempenhando as funções de Treinador Adjunto. Na minha formação, e em paralelo com a minha actividade de jogador, licenciei-me primeiro em Ed. Física, seguindo-se um Master en Alto Rendimiento FC Barcelona e um Mestrado em Alto Rendimento na FADEUP. Nestes ciclos, conheci de perto as filosofias e realidades operacionais do FC Porto e FC Barcelona, sob mentoria ideológica de dois grandes nomes, Vítor Frade, e Paco Seirul.lo respectivamente., cujos paradigmas me influenciaram e inspiraram, nesse momento de início de carreira, na forma como me passei a interessar, a ver e a procurar perceber a arte do treino e do jogo em si. ​ Com o horizonte no futebol profissional, procurando uma carreira sólida e em constante evolução, procurei mais tarde ir também ao encontro de vários treinadores de top no futebol profissional como Vítor Oliveira, Manuel Cajuda, Luís Castro, Mauricio Pellegrino, Marco Rose - entre outros - os quais me possibilitaram a oportunidade de conhecer mais de perto a realidade do treino a top em contexto profissional. O que motiva é vencer e evoluir. Tornar melhores as equipas e os jogadores com quem trabalho. Apontar um caminho para ganhar e crescer. Esta é a minha missão no Futebol." www.carlosmiguelcoach.pt | UEFA A https://www.youtube.com/channel/UCXoYiXyYVbz-MvICj_tm2XQ

Seja o primeiro a comentar

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado.


*