Who’s the Bosz? (Parte I)

Na história do FC Porto-Lyon, que se jogou para os oitavos da Europa League, terá que se contar que os franceses, orientados por Peter Bosz, saíram bem piores (para o FC Porto) do que a esperada encomenda. Sim, quem olhar para a classificação da Ligue1 e para a oscilação de rendimento que vem acompanhando o Lyon desde o início da temporada não esperaria certamente uma performance tão sólida num estádio que só tinha visto esta época o FC Porto perder por duas vezes – e contra equipas de reconhecida craveira (Liverpool e Atlético). Para se juntarem a esse restrito grupo os de Peter Bosz riram-se de quem lhes apontou fragilidades defensivas e deram uma mostra de alto rendimento em todas as vertentes, tornando esta eliminatória num esforço hercúleo para os dragões. A forma como levaram o jogo para o meio-campo ofensivo e como tiraram, por muitos minutos, o FC Porto do jogo deixou para trás todo o optimismo que pudesse haver no reino do Dragão. E beneficiando de um Porto incaracterístico nos seus momentos sem bola e bastante errático com ela, os franceses construíram um resultado que só será reversível para um Porto na sua melhor face. E isso, por culpa de vários aspectos, não aconteceu na passada quinta-feira.

Algo que é explicado por vários momentos do jogo e pelo maior aproveitamento do Lyon nesses mesmos momentos. Fosse em organização ofensiva, onde beneficiaram de um Porto em bloco mais recuado e menos pressionante, como de um Uribe que deixou orfão o miolo para se juntar à linha defensiva, os de Bosz souberam sempre levar a água ao seu moinho – que é como quem diz, o último terço. E lá, sempre perto de Diogo Costa, criariam sempre muitas dificuldades ao FC Porto. Isto porque, contrariamente à percepção geral das antevisões, o Lyon foi monstruoso na reação à perda e na pressão. E como se não bastasse, também o FC Porto ajudou com um número de erros não forçados assinalável e nada normal numa equipa que se bateu com Milan e Atlético Madrid, mas que não conseguiu neste jogo (menos 48 horas de descanso do que o adversário?) ser aquela equipa sufocante e duelista. Ao invés, foi o Lyon que assumiu as despesas dessas vertentes e de uma forma que deixou, em vários momentos, o dragão ofegante e enjaulado.

Lyon conseguiu no Dragão um número assinalável de recuperações altas. Número esse que era esperado mas do lado dos portistas, que fazem da reação à perda uma das bandeiras do seu ADN. Um aspecto que não é nada indiferente não só à vitória dos gauleses mas também ao controle efectuado sobre um FC Porto que foi bastante mais errático que o habitual.

A juntar à irrepreensível pressão e reação à perda, o Lyon não perdeu no Dragão aquela que seria a sua faceta mais conhecida. Muita qualidade individual numa organização ofensiva com muitas soluções. Muita gente boa de bola a arranjar solução. Ir para fora para abrir dentro (a aproveitar o facto de Uribe estar afundado na linha defensiva), recuar para recomeçar ou até na profundidade de Dembelé com bolas mais longas, o Lyon fez o melhor uso de um Porto mais recuado que o habitual.

Uma tendência que o FC Porto só conseguiu reverter (temporariamente) quando meteu algum gelo, segurou mais entre centrais e laterais para daí partir mais seguro para onde precisava de estar: meio-campo ofensivo. Em suma, a primeira luta deste jogo seria sempre essa: a procura pelo último terço. E quem aí passasse mais tempo estaria sempre mais perto de ganhar. Mas quando conseguiu esse objectivo (do qual o Lyon esteve sempre mais perto mas que obviamente foi repartindo) os portistas depararam-se com uma organização compacta e estranhamente sólida para quem sofre tantos golos na Ligue1. Pouco espaço entre-linhas num 4x4x2 que não viu erros individuais de realce, daqueles que decidem jogos. Não houve escorregadelas como contra o Lille, não houve passes oferecidos. Em suma, os brindes ficaram em França e à frente do FC Porto criou-se uma muralha com qualidade e sem dar casas. A somar a isso, a percentagem de sucesso na dividida era novamente imperial como no meio-campo ofensivo. E para combater esse aspecto o FC Porto teria de fazer um esforço sobrehumano dada a diferença das horas de descanso – não esquecendo o que foi todo o mês de fevereiro e este início de março. Não é uma desculpa. É um dado. E com uma equipa deste calibre técnico, táctico e físico pela frente isso faria sempre diferença. Até no discernimento que tolda as decisões, como em reações que com frescura, e com mais espaço(!), não seriam tão emocionais.

A opção e disponibilidade do Lyon para condicionar o FC Porto em zonas mais altas criou imensas dificuldades ao FC Porto para criar. Obviamente os dragões tiveram os seus momentos em organização ofensiva e neles encontraram os seus pontos altos na 1.ª metade, mas a fluidez foi sempre algo gaguejante, fruto da capacidade da organização gaulesa em encostar e enjaular os portistas. Não há como não dizê-lo: o Lyon defendeu melhor que o FC Porto. E como o FC Porto não defendeu tão bem como o Lyon, também os franceses puderam atacar melhor que os dragões.

Organizações defensivas de FC Porto e Lyon (com a bola em zonas diferentes). Surpreendentemente compacta e subida a organização de Bosz. FC Porto com Uribe a faltar no miolo. Sendo útil na linha defensiva, o colombiano manteve-se por lá tempo a mais faltando depois a um meio-campo que se ressentiu da sua falta. Sem a capacidade de prender e ganhar duelos, o FC Porto sentiu imensas dificuldades para controlar o jogo como gosta.
Lyon excelente a envolver adversário. FC Porto terá de ser mais lesto a encontrar o espaço vazio – algo que não aconteceu tanto como devia na 1.ª parte. Dragões caíram demasiadas vezes no engodo gaulês, onde perderam imensos duelos e, por consequência, o controlo da partida e do adversário.

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