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5 jogos, 5 vitórias, 11 golos marcados e três sofridos é o registo mais recente de Fernando Diniz no banco do Fluminense. A proposta de jogo encanta nos momentos bons, tem marca de qualidade e, por estes dias, Chico Buarque não terá de virar o equipamento para fazer alguém adepto do Tricolor.
O ataque colectivo – o lado esquerdo da força
Sem surpresa, Diniz coloca muita gente do lado da bola. No caso do Fluminense o lado mais forte é o esquerdo e onde boa parte da magia começa e quase sempre é onde a magia passa.
Desde logo porque é esse o lado de Manoel, candidato a melhor central do Brasileirão 2023 a continuar assim, muito forte na construção. Tem capacidade para variar a direcção do passe (ver destaques) e gere muito bem os ritmos de jogo.
Como já foi referido o Flu tem sempre muita gente próxima da zona da bola, nomeadamente os 3 médios andam próximos entre si, quer à largura quer à profundidade, e por vezes até o extremo do lado contrário se junta ou fica no corredor central.
Em termos de distribuição embora a mobilidade seja grande, já lá iremos, podemos verificar o seguinte: preferencialmente André – em alternativa Nonato – pode ir para a linha dos centrais, criando um 3×2 (o Flu tem jogado contra uma linha de 2 avançados, seja 442 ou 532), Manoel abre. Ganso e o outro médio variam entre estar de frente para a linha de médios adversária ou arrastar pressão e/ou tentar receber entre linhas, podem igualmente abrir bem junto à linha lateral no espaço deixado livre pelo lateral. Caio Paulista é o responsável por dar largura e profundidade à esquerda com Matheus Martins ou Arias (antes Luiz Henrique) entre linhas ou mesmo de frente para os médios contrários. O avançado Cano, melhor marcador do Brasileirão 10 golos, é quem tenta arrastar linha defensiva mas se necessário baixa para ser apoio frontal.
Primeiro exemplo de distribuição com muita gente do lado da bola
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Segundo exemplo de distribuição com médios muito próximos em largura e profundidade. Lateral adiantado e com espaço para conduzir
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Princípios, rotas e evolução
Por esta altura o leitor que ainda não viu o Flu de Diniz jogar questiona como conseguem sair de espaços tão curtos com a bola. Na realidade, se o modelo de Diniz leva a uma interessante e bem pensada rede de apoios em torno da bola, também faz com que o adversário aglomere nessa zona com o inconveniente de ter a linha lateral como “aliada” na hora de parar o ataque.
Vamos por partes. Se no inicio desta sequência vitoriosa (2-0 Avaí e até 2-1 com Cruzeiro), o Fluminense praticamente só utilizava um corredor para progredir forçando aí ao máximo e não equacionando outras opções, a equipa tem evoluído de jogo para jogo nesse aspecto. Apesar da distribuição inicialmente acima referida a equipa já percorre os três corredores com frequência e há mesmo a intenção de acumular passes num dos lados para explorar o lado contrário, tal como mostra o segundo exemplo.
Ainda assim, existem dois comportamentos pensados para fazer mover o adversário, no sentido de o arrastar para dar espaço ao portador da bola. O primeiro, e bastante utilizado pelas equipas de Pep Guardiola, é aquilo a que no andebol se chama cortina: como existem imensas desmarcações em apoio, ou seja, aproximações ao portador da bola, é este que ao fazer o passe vai para a frente, permitindo ao colega que recebe enquadrar para a baliza adversária. Tal como acontece nos conjuntos de Guardiola, este conceito permite a um 3º jogador ter espaço para conduzir para o espaço livre. Por outro lado, alguém tem sempre a missão de realizar corridas para a frente de modo a “esticar” e fixar a linha defensiva, o que faz aumentar o espaço entre linhas.
Situação cortina
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Na imagem acima é visível outro comportamento mais “individual” que permite duas coisas fundamentais: saltar linhas de pressão, ou seja, a capacidade de começar recuado mas à medida que a jogada se desenvolve passar de estar de frente para os avançados, por exemplo, para ficar de frente para o médio (no caso é André) e consequentemente manter a equipa junta fundamental para o momento da perda de bola.
O Fluminense tem várias posses longas durante o jogo e há vários aspectos colectivos a considerar para tal ocorrer. Além do já mencionado balanço para o lado da bola que não impede o aproveitamento dos três corredores, temos de considerar a paciência com bola entre linhas, os jogadores do Flu distinguem as situações quando a bola vai, e vai muitas vezes, para o espaço entre médios e defesas adversários, não tendo problemas em devolver quando não estão reunidas as condições para progressar.
Além da associação em espaços curtos, o Fluminense várias vezes, utiliza este método numa primeira fase, faz o jogo rodar para o corredor lateral oposto fazendi a bola voltar ao corredor central, e se necessário ao ponto de partida, normalmente para médios ou centrais circulando pacientemente até ao momento em que há condições para realizar o passe entre linhas que desequilibra a defesa adversária e permite a respectiva progressão. O que faz o opositor abrir buracos na sua estrutura defensiva é a capacidade de o Flu acumular passes de forma não linear, fazendo tabelas por exemplo, indo a bola para a frente, depois para trás e novamente para a frente. Uma demonstração abaixo Na sequência do primeiro exemplo, Arias vai conduzir até ao último terço faz cortina com Matheus que roda bola para o lado direito onde o lateral Xavier irá recolher – não aparece ainda na imagem.
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No último terço, quando Cano se envolve o Fluminense ganha nova solução na profundidade
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Pese algumas jogadas muito bem conseguidas este nem foi dos melhores jogos da era Diniz. O tricolor ainda é uma equipa em construção, estando muito dependente ainda do critério de quem tem bola. Apesar de não trazer neste post lances em que falham ofensivamente, a exibição oscila durante o jogo porque por vezes, e durante períodos consideráveis, não apresentam esta dinâmica acabando por forçar a progressão num só corredor acabando “abafados” pela pressão do adversário.
Só o tempo dirá até onde irá chegar esta equipa. No entanto a evolução e diversidade de soluções na circulação de bola é evidente, acabando por fazer a vontade a um dos seus torcedores mais famosos quando pede para salvar o jogar bonito e o tique taque (referência ao tiki-taka, expressão espanhola que significa “toca e vai”), uma das mais vincadas características do Dinizismo.
Destaques individuais
Manoel (central) – Fisicamente forte é quem assume a construção atrás. Sabe quando fazer o passe vertical, procurar a largura ou conduzir. Utiliza muito bem a vantagem de 2×1 quando um dos médios baixa para a linha dos centrais. Faz a bola andar na 1ª fase de construção. Defensivamente tem estado implacável na marcação principalmente em transição defensiva e no desarme. Menos 10 anos (tem 32) e talvez fosse directo para um dos grandes europeus este Verão
Caio Paulista (defesa esquerdo) – Extremo direito até à chegada de Diniz está mais que adaptado à nova função. Dos jogadores com maior inteligência do elenco, sabe quando baixar ou ir dentro quando outros estão a dar largura no seu corredor. Muito boa decisão com bola, capacidade para se associar, é dos que melhor apreendeu o toca e vai de Diniz. Trava na frente se necessário e tem capacidade de reter bola, do seu tempo de extremo ficou a capacidade de drible. Defensivamente está a crescer e já não é fácil passar por ele. Encaixaria facilmente em qualquer um dos três grandes
André (médio centro) – Na mobilidade dada pelo Flu ao ataque é ele quem mais vezes fica de frente para os médios adversários com bola do meio-campo. Ainda com aspectos a melhorar na tomada de decisão com bola porque força demasiado no corredor onde o ataque está a decorrer, demonstra inteligência no posicionamento. Sabe quando saltar uma linha de pressão para juntar equipa. Defensivamente evolução assinalável. Forte na transição defensiva e no encurtamento do espaço ao portador da bola, também está confortável em bloco baixo a que o Flu acaba por recorrer em vários momentos durante o jogo
Ganso (Médio ofensivo) – Recuperada a titularidade, Ganso é o médio que mais vezes recebe a bola entre linhas. Criativo acaba por ser o responsável pela circulação do Fluminense não seguir caminhos os caminhos mais óbvios. Tem aquilo que os espanhóis chamam “la pausa” mas também joga a um ou dois toques entre linhas. Não acerta sempre mas o saldo é muito positivo. Ainda pode melhorar no poscionamento pois torna o campo demasiado pequeno na ânsia de ter bola nos piores momentos da equipa
Arias (extremo) – Com os mesmos “defeitos” de Ganso a verdade é que tem crescido. Essencialmente em apoio, toma boas decisões com bola que acabam por “compensar” o posicionamento, digamos, discutível em várias ocasiões. Tudo somado e subtraído o colombiano sente-se confortável a jogar por dentro, lida bem com a pressão e vai ganhando protagonismo
Matheus Martins (extremo) – Sucessor de Luiz Henrique (foi para o Bétis no inicio do mês) completa 19 anos para a semana e veremos se aos 20 não está já deste lado do Atlântico. Mais paciente que Arias no que ao posicionamento diz respeito, intercala os movimentos de apoio e entre linhas com desmarcações para arrastar adversários. Forte no 1×1, procura estar no último terço em zona de finalização
Cano (ponta de lança) – Já é o melhor marcador do Brasileirão (5 golos nos últimos 5 jogos), e é quem arrasta defesas mas sabe ser apoio frontal se necessário. Boa capacidade para desmarcação curta em diagonal, o que dá muito jeito num campeonato em que por vezes a linha defensiva permanece alta e desalinhada, mesmo quando o adversário não tem pressão e está próximo.
Martinelli (médio) – Faz 21 anos em Outubro e é bastante apreciado pelo autor deste post. Entra sempre bem (em contexto facilitado, diga-se), tendo sido titular contra o Corinthians porque o dono do lugar, Nonato, estava suspenso e se não foi o melhor em campo andou lá perto. Capacidade física e disponível para defender, descobre bem os colegas, gere os timings de ataque com qualidade e tem definição entre linhas.
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