
Ontem não pude assistir ao tremendo confronto entre duas das melhores equipas da Europa.
Curiosamente, enquanto decorria o Chelsea x PSG, trocava algumas ideias com um director desportivo. Dizia-me ele algo como. “Perguntam-me como é que fizemos a belíssima exibição na semana anterior e nesta contra uma equipa mais acessível foi este horror. Na semana passada, ficámos nós atrás e saíamos no contra-ataque. Este fim de semana deram-nos meio campo para jogar, e nós não conseguimos assumir o jogo e assegurar uma boa transição defensiva após cada perda”
Já por algumas vezes neste espaço se pretendeu passar a ideia de como devem os treinadores ser avaliados. Pelas ideias e pelo modelo. Não pelos resultados, porque treinadores diferentes têm jogadores diferentes. De uma forma bastante simplista, Guardiola no Arouca jamais venceria José Mota no Barcelona. Se juntares os piores treinadores do mundo na mesma liga, um vencerá. Se juntares os melhores, alguns descerão e farão papel de incompetentes. Portanto, se são os jogadores que jogam o jogo, a forma de avaliar o trabalho dos treinadores terá de passar sempre pela avaliação aos comportamentos e posicionamentos em campo dos atletas.
Nesse sentido, valorizo sempre bastante mais quem mostra competências em todos os momentos do jogo. Quem tem bons comportamentos definidos em organização e em transição. Ofensivamente cativam as equipas que ofertam sempre várias linhas de passe ao redor do portador. Que gostam e procuram jogar dentro do bloco (porque há lá opções dentro!), que dão primazia ao corredor central, porque ai as possibilidades aumentam. Que mostrem diferentes recursos para diferentes dificuldades. Defensivamente o controlo da profundidade é sempre uma marca de excelência. Não é difícil evitar continuamente bolas nas costas. Mas é difícil garanti-lo e ser uma equipa pressionante e “alta” no campo. É gratificante ver o “sobe” e “desce” da última linha em função da situação de jogo. O controlo da largura. A reacção posicional em função do número de jogadores atrás da linha da bola.
O FC Porto de Mourinho era tão à frente tacticamente naquela era que mesmo quando reduzido a 10 era uma equipa que conseguia tantas vezes manter-se dominante sem se expor ao risco. Hoje diz-se que Mourinho se tornou resultadista. É um termo muito usado para catalogar aqueles que gostamos e que em certo momento acabam por abdicar de jogar em todos os momentos do jogo. O Mourinho não resultadista venceu dezenas de troféus num curto espaço de tempo. Teve um impacto tremendo na evolução do jogo. O Mourinho resultadista prepara-se finalmente para voltar a vencer um campeonato após um certo hiato de triunfos. E sempre com os melhores plantéis e onzes do mundo ao seu dispor.
Hoje as equipas do mais conceituado treinador português estão praticamente unicamente centradas em “magoar” os adversários apenas nos segundos seguintes à recuperação da bola. Pouco trabalhadas para defrontar adversários em organização defensiva, que não se exponham às transições. A quantidade de pontos perdidos na Premier na época passada perante adversários fraquíssimos foi abismal e retirou-lhe a possibilidade de ser campeão. Ontem, e sem ter visto o jogo arrisco que o problema não terá sido o que avançou “pressão de jogar contra dez”, mas sim o da incapacidade para jogar em organização. Jogar em organização que jogando contra dez deveria ocupar noventa por cento do jogo do Chelsea.
Porque aqui muito se falou sobre isso, permitam que mantenha a opinião reforçando-a. A maioria pensará que voltando a uma Liga inferior como a portuguesa com a bagagem e qualidade que traz, venceria confortavelmente a Liga nacional. A minha opinião é bastante diferente. Sucedendo a Jorge Jesus seria incapaz de garantir uma percentagem de vitórias tão elevada quanto o actual treinador do Benfica (e se com vinte vitórias em vinte e quatro jogos a Liga permanece totalmente em aberto, imagine com menor eficácia). Precisamente porque Big Mou não está hoje preparado para ser treinador de um grande, sobretudo num campeonato onde há demasiados pequenos. Onde se exige às equipas aquilo que as suas equipas não mostram há algum tempo. Competência em organização. Mesmo que ofensivamente seja uma organização desorganizada conforme me confidenciou no passado fim de semana a grande referência Francisco Silveira Ramos.
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