
Jesus é um treinador fantástico, com um modelo de jogo especial, e com uma capacidade ímpar de transmitir o que idealiza aos seus jogadores. É um treinador talhado para o rendimento, e dando-lhe as condições que precisa triunfará. Como bom treinador que é, é fiel ao seu ideal de jogo e de jogador. E o seu ideal de jogo e de jogador está amplamente representado por Angel Di Maria.
Numa entrevista que deu num final de época disse duas coisas:
– O melhor jogador que treinou é Aimar, já depois da saída do genial médio ofensivo do Benfica;
– Se pudesse escolher um jogador que já tinha treinado para voltar a ter na equipa escolheria Di Maria.
Isso indicia que no dia a dia, nas contratações, na escolhas para o seu onze inicial, o seu perfil de jogador mais facilmente entrará que outros. Isso, e isso só, explica o porquê de algumas opões que foi tendo ao longo do tempo no seu Benfica, com Capdevila, Nolito, Saviola, Aimar, Ola John, Djuricic, e Bernardo. Jesus, mais do que a inteligência, é um profundo admirador de jogadores dotados do ponto de vista físico e técnico. Talvez por acreditar que é capaz de melhorar todos os jogadores ao nível do conhecimento do jogo. E essa confiança cega que tem nas suas capacidades funciona como a sua maior força, e como a sua única fraqueza. Não é no discurso para a comunicação social, na liderança dentro do balneário, na leitura de jogo, ou na vertente estratégica que Jesus perde. É sobretudo no pensar que pode mudar um jogador por completo do ponto de vista ofensivo e defensivo, e na pouca valorização dos pormenores que os mais inteligentes, e menos vistosos nas capacidades condicionais, acrescentam ao jogo.
Jesus quer para qualquer posição em campo capacidades físicas ímpares. E tecnicamente, para quem joga nos corredores (laterais ou médios ala), para o médio centro, e para um dos avançados, jogadores de condução, que tenham a capacidade para transportar a bola em velocidade, para ultrapassar o adversário em acções individuais. Para que dessa forma permitam que a equipa chegue mais à frente no jogo, fruto dos constantes duelos que vão superando nas suas zonas de acção. A excepção são o médio defensivo – que desde que seja alto, agressivo na primeira bola, e razoável do ponto de vista técnico serve -,bem como o avançado que pode só procurar zonas de finalização, e ser jogador de um toque em apoio frontal. Até para os guarda-redes a altura é o primeiro factor determinante na escolha de Jesus. Tudo isto surge em oposição à escola da pausa – temporização -, da excelência no passe e na recepção. Da qualidade na tomada de decisão, dos desequilíbrios com o cérebro. Jesus prefere gente que em determinados momentos tem um lance genial, que se precipita constantemente para cima do adversário, e que corra muito e rápido – ainda que passe a maior parte do jogo a errar na tomada de decisão -, a gente que jogue constantemente o que o jogo dá e que não seja vistosa do ponto de vista físico. A preferência cairá, na esmagadora maioria do tempo, em jogadores que criem em condução no lugar de jogadores que criem com o passe.
Como escrevi num artigo anterior, para a posição 8 do seu modelo, Jesus colocaria Enzo à frente de Xavi. Assim como prefere Di Maria ao melhor jogador que treinou. Porque Di Maria do ponto de vista técnico e físico representa tudo o que ele quer num jogador, ainda que peque constantemente na utilização do cérebro.
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