
Defensivamente é uma equipa sobranceira, que opta por partir demasiadas vezes o jogo na tentativa de pressionar a oposição. E se tal resulta de forma eficaz, quando opositores se encolhem e optam por não jogar, sempre que encontra uma equipa e jogadores mais corajosos, abrem-se avenidas. Afinal, quando se vai pressionar, cada um fica com o seu, e o posicionamento deixa de ser o da protecção do espaço para ser o de recuperar rápido a bola. A equipa fica mais longa no campo!
No rescaldo da eliminatória da Taça contra o Arouca, abordei (aqui) aquela que me parece a maior dificuldade defensivamente do Benfica nos dias de hoje. A passagem do momento de controlo em Organização Defensiva para o pressing, mesmo que percebido por todos, depende depois da capacidade que quem sai em primeira instância à bola consiga não ser batido. Quando se sai para marcar individualmente, basta um desequilíbrio para que toda a equipa se desmorone. E se desmorone porque se está cada um com o seu, e se os adversários estão em posicionamento ofensivo, logo aberto, então quem está a defender também fica estendido no campo, e abre muitos espaços entre quer elementos do mesmo sector, quer entre os diferentes sectores.
Curioso que o Benfica de Rui Vitória da segunda temporada, que fechava o jogo com grande categoria em controlo defensivo, depois de se adiantar no marcador, simplesmente não existe na actualidade.
Hoje, não há selecção de momentos para pressionar. Sempre que um indicador é activado (por exemplo – pontapé de baliza; passe para o defesa lateral adversário) saem sempre para o fazer. Esteja o jogo como estiver, quer em termos de resultado, quer em termos de domínio.
Querer pressionar a campo inteiro o Bayern em Munique pareceu muito mais uma jogada para fora, na tentativa de mostrar coragem e ousadia, do que propriamente uma forma inteligente de tentar contrariar a evidente superioridade adversária. E mesmo a própria estratégia não encontra então coerência com as opções. Afinal, Gedson, o mais capaz de se dar a tal jogo ficou de fora. Alguma vez o Benfica poderia ser pressionante a campo inteiro utilizando na Allianz Arena, em simultâneo, Jonas, Pizzi, Gabriel ou Rafa? Lamento, mas não.
Embora o pressing seja um movimento colectivo, depende bastante da capacidade individual de cada um dos elementos em aspectos determinantes como a habilidade para roubar ou pelo menos não ser ultrapassado no 1×1 pelo adversário.
Os encarnados têm sido batidos sistematicamente por equipas como o Arouca nas suas tentativas insípidas de apertar a todo o instante o adversário. Como poderia ser diferente em Munique?
Um Benfica estendido no campo, e os três golos de bola corrida que a equipa alemã marcou tiveram o mesmo importante dado. Em Transição ou Organização, surgiram com o Benfica totalmente estendido no campo. Umas vezes, a tentar recuperar a grande velocidade o tempo e espaço perdido, e ai, mesmo que conseguindo colocar jogadores atrás da linha da bola, completamente perdidos no campo, sem perceber o que se estava a passar.
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Concordo que a estratégia foi mal pensada e/ou mal executada e que se vem instalando um padrão de erro e de falta de ideias com aderência à realidade.
Importa no entanto salientar que não se trata de caso único no passado no Benfica e tal como procurei descrever no comentário ao post anterior e em outros, o JJ também teve períodos de grande desajuste da realidade, desde logo por não ter um modelo adaptativo tendo uma entourage de apoio de que era assim que era o correto, entourage essa que, assim sendo, obrigatoriamente tem que ter também por vezes o seu desajuste em relação à realidade.
“Curioso que o Benfica de Rui Vitória da segunda temporada, que fechava o jogo com grande categoria em controlo defensivo, depois de se adiantar no marcador, simplesmente não existe na actualidade.”
Por um lado, no final dessa época perdeu quantos jogadores de qualidade na defesa e quantos de qualidade entraram?
Por outro lado, se alguém não consegue transportar o seu próprio bom trabalho de um ano para o outro, como é que, alegadamente, teria conseguido transportar o trabalho que não é dele durante dois anos?
“Querer pressionar a campo inteiro o Bayern em Munique pareceu muito mais uma jogada para fora, na tentativa de mostrar coragem e ousadia, do que propriamente uma forma inteligente de tentar contrariar a evidente superioridade adversária. E mesmo a própria estratégia não encontra então coerência com as opções. Afinal, Gedson, o mais capaz de se dar a tal jogo ficou de fora. Alguma vez o Benfica poderia ser pressionante a campo inteiro utilizando na Allianz Arena, em simultâneo, Jonas, Pizzi, Gabriel ou Rafa? Lamento, mas não.”
Concordo plenamente que aparenta haver erros de casting para aplicar a aparente estratégia.
Quanto à “jogada para fora”, tenho muitas dúvidas se foi esse o motivo ou se o problema estará na dita “operacionalização” da estratégia.
“Os encarnados têm sido batidos sistematicamente por equipas como o Arouca nas suas tentativas insípidas de apertar a todo o instante o adversário. Como poderia ser diferente em Munique?”
Dito assim parece que o Arouca merecia ganhar, o que não é verdade. O que aconteceu é que, embora o Benfica tenha criado o suficiente para ganhar o jogo ao Arouca (tal como aconteceu noutros jogos), pôs-se a jeito para sofrer – são coisas bem diferentes.
Verdade de facto que parece tonto tentar aplicar uma estratégia com alguns pontos semelhantes em Munique.
De resto, concordo, equipa demasiado estendida no campo a oferecer espaço e a ver-se demasiadas vezes em contrapé ficando assim de facto a manta, tal como a paciência, bastante curtinha…