O Campeão passou!

Está desfeito o quebra-cabeças do Grupo F, com Portugal a agarrar-se ao 3.º lugar para seguir adiante. E se a aventura metia dois colossos como a França e a Alemanha, a intromissão da Hungria – que muitos usaram para criticar Portugal e a sua abordagem ao primeiro jogo – tornou as coisas realmente dramáticas e cheias de suspense. E assim sendo a 3.ª jornada foi correndo ao estilo de montanha-russa (talvez montanha-húngara ficasse até melhor), com a viagem portuguesa a correr pelos quatro(!) lugares possíveis. Desde primeiros, com o penálti de Ronaldo (31′), a segundos por via do penálti de Benzema (45’+2), passando para últimos e virtualmente eliminados, pela diagonal de Karim (47′) e salvos e em terceiro pela mão de Koundé que deu a possibilidade a Ronaldo de bisar (59′). Tudo porque a catrafada de emoções foi igual em Munique, com a Alemanha a salvar-se in extremis, com um 2-2 que prova tudo o que este Grupo foi. Será possível então que todas estas circunstâncias tenham tirado algum rasgo a um jogo que, mesmo com as alterações promovidas no meio-campo (Renato Sanches e Moutinho por William e Bruno Fernandes) foi muito similar àquele de 11 de outubro que se jogou em Saint-Denis, a contar para a Liga das Nações.

4141 para controlar mais à frente, 541 para defender último terço, assim se desdobrou Portugal para conter a organização da campeã do Mundo



Esqueçam por isso o épico amasso de há cinco anos – aquele que nenhum português que ama o futebol jamais esquecerá – e relacione-se este jogo com aquele nulo de há uns meses. Isto porque Portugal não foi submisso e porque os momentos de domínio foram repartidos, sendo as notas de destaque Renato Sanches e a inclusão a espaços de uma linha de cinco que nos deixa mais descansados para enfrentar o 343 da Bélgica. E falando no médio português do Lille têm que sobrar os elogios para uma prestação que prova a versatilidade de Renato. Roubos mais altos de bola em relação a William, e uma capacidade notável de a proteger e carregar, tornam-no primeiríssima opção para aquele lugar. E foi vê-lo a roubar n bolas que conseguiram dar ao plano do engenheiro aquela posse que ele pediu na antevisão. Claro que para isso outros elementos foram também importantes. E se Portugal, com este onze, jamais vai ter aquela capacidade pressionante que se prolonga no tempo mais à frente no terreno, o 4141 luso esperou pelos franceses numa zona média – sendo que desta vez quando a bola rondava os últimos 30 metros, Bernardo Silva teve a missão de se juntar à linha defensiva no corredor de Mbappé (missão continuada por Jota e por Bruno Fernandes que, na etapa complementar, se alternaram a dar largura à linha defensiva de Portugal).



Um jogo, como já dito, muito parecido àquele nulo de há uns meses e que, neste caso, só não o foi também por duas razões. Os penáltis (todos eles evitáveis, sendo que um deles deixa muitas dúvidas, como outro que poderia ter sido assinalado em desfavor português também não o foi) e as deambulações gaulesas pelas costas da defensiva portuguesa. Com Griezmann nesse papel de vagabundo, foi obviamente Mbappé a dar o mote (conseguindo uma boa oportunidade e um penálti assinalado com muito boa vontade) mas também Benzema que, quando fugiu a Dias e Pepe, trouxe maior preocupação para o que aí vem – como se não bastassem as que já tivemos!

Portugal com sérias dificuldades para proteger a profundidade. Mbappé excelente nesse aspecto (um regalo ver como prepara as investidas para depois arrancar imparável) mas também Benzema que, no segundo golo da França, aparece já a embalar enquanto os centrais portugueses ainda estão em modo de antevisão.


A tudo isto Portugal respondeu com quilos de posse pouco aventureira, mas bem sucedida, e vontade e intensidade suficientes para controlar a maior parte da partida. Mais na primeira metade é certo, porque na segunda os franceses igualaram essa entrega que obrigou Fernando Santos a alterar o miolo. Já o havia feito com Palhinha por Danilo, mas voltou a fazê-lo com Rúben Neves por Moutinho, e Bernardo Silva por Bruno Fernandes. Tudo isto redundou em poucas ações ofensivas de registo, sendo que as que nos salvam a pele só sobem a título pela ingenuidade de Koundé e pela elasticidade de São Patrício. E sendo óbvio que todo o jogo da equipa das quinas é uma espécie de laboratório para se aferir o que realmente se pode fazer numa competição deste género, este foi um daqueles que não apaga todas as preocupações para o que aí vem e que até acrescenta uma (aquelas deambulações na profundidade entre a linha e Patrício) mas que também mostra já plano para cobrir alas e avançados num 343 que rapidamente se transforma num 325. Isso, como o apuramento num Grupo deste género, são obviamente boas notícias, ainda que como bem sabemos, há sempre surpresas há espera de acontecer. E para nosso bem desejamos todos que essas aconteçam nos últimos 30 metros do meio-campo ofensivo onde nos têm faltado lances de registo, como também ligação e entrosamento suficientes para a criação desses mesmos lances (alô, Jota, Ronaldo e Bernardo, é tempo de combinar e ligar mais para se ver também chegada do meio-campo à área).

Portugal-França, 2-2 (Ronaldo g.p. 31′ e g.p. 59′; Benzema g.p. 45’+2 e 47′)

Seja o primeiro a comentar

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado.


*