enXadas no batatal

Embora seja difícil, assistindo pela televisão, de ter a noção exacta do quão o estado do relvado afetou a qualidade de jogo no Marítimo-FC Porto, será também difícil negar que essa condição (ou falta dela) terá que ter tido influência. Mais a mais quando vemos os pedaços de relva soltos a tornarem a trajectória da bola em algo muito mais abstrato do que o normal. Esse é um facto. Porém é um só facto dos inúmeros que se podem retirar de um jogo que confirma o retorno do FC Porto aos já habituais tropeções padrão em algumas das deslocações aos quintais (neste caso batatais) que já aqui referimos várias vezes desde que Sérgio Conceição assumiu o objectivo de começar esta Liga bem melhor do que a passada (também ele tem noção absoluta desses padrões). Mas, como em Vila Nova de Famalicão, os períodos de bom futebol dos portistas nunca chegaram para retirar totalmente o adversário do jogo. E se na deslocação passada os dragões foram salvos pelo gongo, desta vez um só golo marcado (Luis Díaz 35′) não chegou para travar a eficácia do Marítimo. Como que a explicar onde esteve o problema, Xadas conseguiu um excelente golo que chegou para empatar toda a produção do FC Porto na primeira-parte. Sintomático.

Uma bola de saída do Marítimo deu o espaço que faltou aos jogadores do FC Porto para definirem melhor. Com o espaço que a imagem mostra, Bruno Costa, Taremi e Otávio não se fizeram rogados e ofereceram a Díaz o golo que o caudal ofensivo dos dragões já fazia por merecer



Estamos já fartos de saber, especialmente quando o assunto é o FC Porto, que a eficácia é realmente um problema. E olhando para uma primeira parte onde o FC Porto conseguiu criar várias oportunidades para marcar, e onde conseguiu também vários outros lances que não chegaram a sê-lo por falta de definição, fica difícil de explicar o porquê de vários jogadores portistas – especialmente os dois avançados – continuarem a cometer erros inexplicáveis na definição de lances capitais. E o exemplo perfeito disso mesmo explica-se a olhar para o minuto 17, onde Uribe, Taremi e Martínez abordam uma bola de golo que condensa tudo o que vem aqui sendo dito sobre este assunto. De facto, ninguém bate o FC Porto na superação e na entrega ao jogo, mas quando o assunto é a definição e quando olhamos para os dois campeonatos que Sérgio Conceição não conseguiu vencer, vemos facilmente que a relação desses dois campeões (Benfica de Bruno Lage e Sporting de Rúben Amorim) foi muito menos turbulenta com a finalização. Mais ainda foi também menos turbulenta com a adversidade. E quando a ideia é mais emocional coisas simples como o jogo de ontem parecem tarefas extremamente árduas. E a julgar pela primeira parte, este jogo em nada teria de ser uma montanha para um FC Porto tranquilo, confiante em si mesmo e, principalmente, eficaz.

Bola entrelinhas de Zainadu para Rossi com o FC Porto ainda equilibrado. Toni fica a centímetros de ganhar a bola. Ao não fazê-lo, Otávio e Bruno Costa são atraídos e libertam espaço na ala e no centro. Espaço esse que Vítor Costa e Xadas aproveitaram para fabricar o empate. Coragem de Zainadu, trabalho de Rossi, vantagens do 343 e excelente definição de Xadas explicam o lance.



E como se isso não bastasse, uma primeira metade de controle absoluto fica também ligada a outro sector específico que revela problemas na criação. Um meio-campo com Uribe e Bruno Costa (apesar da assistência para o golo do português e das chegadas à área do colombiano) fica curto para tanta bola. Insuperáveis na abnegação (ainda que o golo dos madeirenses deixe dúvidas em relação a Costa), a elevada percentagem do FC Porto com bola (68% à volta dos 35 minutos) deixou claro que falta aquela definição extra que decide jogos. Algo que se agravou numa segunda metade quase inenarrável que guardaremos para outro parágrafo. E continuando na senda da posse de bola, e nos tais quase 70% que o FC Porto guardou para si, convém não esquecer também que no período entre o golo de Luis Díaz (bem merecido pela produção atacante mas que não deveria ser filho único) e o golo de Xadas essa mesma percentagem decresceu… dez pontos. E porquê logo após o golo da vantagem se ver muito mais Marítimo no meio-campo ofensivo quando até aí (exceptuando um fogacho) os madeirenses nada tinham contribuído para estragar o relvado desse lado do campo? E será padrão do FC Porto, especialmente neste tipo de jogos, que logo após marcar a prestação desça também vários pontos percentuais noutros aspectos? A julgar pelo jogo de Famalicão e com este, ainda bem presente na memória, a resposta terá que ser: sim, sem dúvida.



E eis que nos debruçaremos então sobre a tal etapa complementar quase inenarrável dada a falta de ligação entre sectores por parte das duas equipas. Uma, completamente recolhida e sem qualquer interesse em jogar no meio-campo adversário, acaba por conseguir a melhor oportunidade desse período (Vinicius ao poste – 69′) e outra com a necessidade imperativa de marcar – qual entre a espada e a parede – que nunca conseguiu a tranquilidade necessária para o fazer. E aqui, se é que será justa a crítica a um treinador que elevou a prestação de um clube desde que pegou no futebol da equipa – terá que, pelo menos, ser feito um reparo às equipas do FC Porto que Conceição orientou. E especialmente quando a condição é adversa a reação é sempre (ou quase sempre) turbulenta. São equipas, não se poderá negar, totalmente emocionais. Que usam força emocional e física para responderem a essas adversidades e onde o peso da exigência verga e tolda as decisões. De que outro modo se explica que numa primeira-parte de boa produção, se falhem golos que com a mente limpa e tranquila nunca se poderiam falhar? De que outro modo se explica que depois dessa produção, e registo ofensivo, a ideia que a equipa dá é a de frustração por essa tal produção não se materializar numa vitória clara. Algo que redundou na confusão gerada à qualque a questão do relvado pode ajudar a explicar, e até abafar. Mas não explica o padrão que vem de outras épocas e ao qual as substituições de Sérgio tentaram responder – com a entrada de todos os jogadores que poderiam alterar esse padrão na definição: Corona, Fábio Vieira, Evanilson, Pepê e Francisco Conceição. Coisa que nunca se alterou porque a equipa não conseguiu, por mais esforço que fizesse, ligar sectores. E se o relvado me ficou na retina, também a prestação com bola de Bruno Costa e Uribe me ficou gravada. E sem ele lá, talvez se note a importância que Sérgio Oliveira teve desde que veio de Nantes com Sérgio Conceição. Seria diferente? Mais na primeira-parte do que na segunda. Tal como seria diferente o efeito do relvado, e o peso do mesmo nas explicações, se o resultado da primeira metade fizesse jus à produção ofensiva. E para o ser parece também claro que a força emocional na definição, e finalização, tem prejudicado mais do que tem ajudado. Haverá certamente correções a nível mental que podem atenuar esse bloqueio. É que a malapata neste tipo de jogos não será ultrapassada a fazer o que já foi feito.

Marítimo-FC Porto, 1-1 (Xadas 45’+3; Luis Díaz)

1 Comentário

  1. Bla Bla Bla

    “A eficácia é um problema” ou então é mesmo azelhice: digamos que Otávio, Uribe, B. Costa, Taremi e Toni Martinez (e ainda Mbemba, Marcano noutros sectores, temos aqui sete gajos rijos e pouco mais) dão um corredor central com uma falta de talento que não lembra ao diabo, sobretudo quando existem no plantel outros mais habilitados, que só entram quando o cenário se complica. Tirando o Diaz, muitas vezes rodeado de dois e três, o que criaram mais? Vira o disco e toca o mesmo.

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