O ataque posicional do Arsenal vs Aston Villa. Uma ajuda dos números

LONDON, ENGLAND - OCTOBER 22: Pierre-Emerick Aubameyang of Arsenal celebrates with Alexandre Lacazette after scoring their team's second goal during the Premier League match between Arsenal and Aston Villa at Emirates Stadium on October 22, 2021 in London, England. (Photo by Alex Pantling/Getty Images)

(Nota: este post nasce originalmente de um trabalho por mim desenvolvido no Master em Big Data Aplicado ao Futebol. O objectivo desta análise é juntar o habitual trabalho qualitativo aqui desenvolvido (ainda que um pouco menos detalhado desta vez) e alguma análise quantitativa, sendo a amostra, como verão, bastante pequena. Tendo no fim a tarefa sempre ingrata de retirar conclusões e sugerir aspectos que possam melhorar a performance. No final, 3 videos em anexo ajudam a visualizar o que se pretende enunciar)

Contextualização

O Arsenal recebeu o Aston Villa na época 21/22. Os gunners procuram ter bola e um bom domínio do jogo posicional, nomeadamente na 1ª fase de construção, tendo várias soluções para chegar ao último terço.

Neste jogo a estrutura utilizada foi 442 assimétrico. À direita o avançado Lacazette baixava no half space para ser apoio frontal do lateral-médio e extremo do seu lado. Saka, o extremo foi várias vezes a referência de largura máxima e o lateral Tommiyaso ocupou zonas mais dentro, seja à largura ou até no half space.  O outro avançado Aubameyang, fixava-se mais em posições centrais podendo ocupar o espaço livre deixado pelo recuo de Lacazette ou arrastando a linha defensiva adversária (ocasionalmente podia aparecer no half space esquerdo a servir de apoio frontal) e à esquerda o ala Smith Rowe jogava ligeiramente dentro (ainda que aberto e a receber de frente) e a largura era dada normalmente pelo lateral Nuno Tavares. Existindo portanto, uma maior aglomeração à direita foi possível ver que o objectivo passava por usar este factor para fazer 2×1 no lado contrário com a subida de Tavares.

Os dois médios centro, Partey e Lokonga serviam de apoio por trás à circulação, ainda que com liberdade para em movimentos de trás para a frente aparecerem em zonas mais adiantadas, nomeadamente entre linhas.

Esta distribuição pareceu encaixar no 5x3x2 do Aston Villa. Tendo o adversário 3 jogadores no “meio-campo”, fazer a bola rodar da direita para  a esquerda (uma rota que pareceu estar especialmente trabalhada) e provocar o 2×1 frente ao ala adversário com Smith Rowe e Nuno Tavares pareceu um objectivo

O Arsenal tem um jogo muito baseado em combinações e procura de aproveitamento dos corredores laterais.

Métrica

Contra bloco baixo quantas vezes os jogadores do Arsenal conseguiram ficar somente com a linha defensiva pela frente.

Objectivo da métrica

Sabendo que frente a um bloco baixo, nomeadamente a linha defensiva de 5, como o Aston Villa apresentou na 1ª parte durante boa parte do tempo, a maioria dos treinadores considera que ultrapassar a linha média, ficando o portador da bola somente com os defesas pela frente, ajuda à progressão e criação de perigo.

Esta métrica pretende contabilizar quantas vezes o Arsenal durante a primeira conseguiu o comportamento descrito no parágrafo anterior, em ataque posicional, retirando daí situações vantajosas, e  posteriormente perceber quais as dinâmicas que tiveram sucesso e insucesso na progressão da equipa.

Para efeitos de contagem, neste estudo contabilizamos ataque posicional como um ataque com 4 ou mais passes

 Descrição específica de cada uma das variáveis a registar

Numa primeira fase contabilizar o número de ataques posicionais que chegaram ao último terço. E desses quais conseguiram ter somente a linha defensiva pela frente

Caracterização da amostra

 13 lances em que o Arsenal está em ataque posicional e chega ao último terço – 1ª parte, 45 minutos

Jogo: Arsenal vs Aston Villa

Competição: Premier League

Resultados obtidos

Em 13 ataques nas circunstâncias referidas, 5 conseguiram enquadrar um jogador com a baliza adversária somente com a linha defensiva pela frente, ou seja, em 38,6% das oportunidades

É notório que o Arsenal podia ter aproveitado melhor os ataques no último terço. Veremos os comportamentos que tiveram sucesso e insucesso na progressão da equipa

Quando existiu sucesso

– Após a bola chegar ao último terço pela primeira vez, por um dos corredores laterais, fazer bola chegar ao lado contrário e procurar os centrais. Os avançados do Aston Villa saltaram na pressão, assim como médios e alas criando espaço interior para combinar e receber entre linhas (lembrar que neste capítulo Arsenal tem 2 avançados capazes de serem apoios frontais).

Posse mais longa. 2 situações – 1 sucesso – 1 insucesso. Taxa eficácia 50%

Criação de “overload” num corredor lateral, ou seja, juntar lateral, um dos médios centro descair para esse corredor juntamente com lateral e extremo. 4 jogadores entre half space e corredor lateral.

Utilizando muito “passe e vai” e consequente realização de cortinas, estes comportamentos promovem rotações complicadas de defender. O ala do Aston Villa na linha de 5 ficou fixado no jogador à largura e a bola entrou entre si e o médio no espaço das suas costas.

Em alternativa, à esquerda e com Aubameyang mais fixo entre centrais, foi Saka, ala direito, que foi ao corredor contrário promovendo a rotação a 4. Aqui foi o lateral, Nuno Tavares, que ficou enquadrado entre linhas. Também por uma vez esta solução foi testada sem sucesso, já que, a bola recuou até aos centrais e o lance perdeu-se

3 overloads – 2 com sucesso – 1 insucesso – taxa 66,6%

Envolvimento dos médios centros em zonas adiantadas. Lokonga e Party têm importantes funções de equilíbrio na transição defensiva, uma vez que os laterais avançam muito, no entanto, o Arsenal consegue ser mais perigoso e chegar vantajosamente ao espaço entre linhas quando um destes jogadores, nos momentos certos, não se limita a ser apoio por trás à circulação no overload ou na mudança de corredor, mas faz movimento de arrastamento que leva o médio e permite à equipa aproveitar o corredor central, quer seja através de passe de fora para dentro quer seja por dar condições ao colega ter para conduzir a bola em direcção ao corredor central, ou eles próprios conduzirem a bola no meio após ultrapassarem um adversário directo do meio-campo.

2 situações = 2 sucesso – 100% eficácia

Quando existiu insucesso

– Acção de Nuno Tavares. O lateral foi o principal responsável por aproveitar as vantagens conseguidas no corredor no 2×1, no entanto, não foi capaz. Forçou remate quando existiam soluções melhores, e os cruzamentos realizados não foram precisos. Dos 8 ataques que chegaram ao último terço em ataque posicional, sem sucesso nesta métrica, em 3 o lateral perdeu a bola.

3 situações = 3 insucessos 100%

Forçar jogo à direita Saka e Tommyiaso e Lacazette forçaram, uma vez cada, progressão à direita (tentando cruzamento ou 1×1 e 1×2) sem grande probabilidade de sucesso. Estas situações têm em comum o facto de o Arsenal, no último terço, não ter mudado o corredor, ou seja, o Aston Villa estava confortavelmente instalado e limitou-se a esperar pelo momento certo para roubar a bola. 3 situações – 3 insucesso

Implicações para a prática

Olhando ao modelo de jogo do Arsenal, que estrategicamente poderá repetir as mesmas dinâmicas contra um adversário em 5x3x2, deixo algumas sugestões, tendo em conta os comportamentos que aconteceram:

– Ter paciência com bola, o Arsenal enquadrou mais facilmente jogadores entre linhas em algumas posses longas no último terço. Aqui duas rotas a explorar especialmente: bola quando chega ao último terço rodar pelos médios centro para o lado contrário e tentar o 2×1, ou voltar atrás aos centrais para atraírem a linha de avançados e médios. Uma vez que, existem, neste momento, vários movimentos de arrastamento sem bola, um extremo ou médio pode aproveitar a distância entre linha defensiva e média para receber e progredir

– A criação de superioridade num corredor lateral/half space com mais frequência. O Arsenal é forte na mobilidade neste espaço, há movimentos de aproximação e afastamento e capacidade para colocar passe entre linhas por parte dos médios centro (quem mais tem a responsabilidade de o fazer)

– Os movimentos de arrastamento dos médios centro de dentro para fora devem ser feitos com mais frequência. Tendo o Arsenal dois apoios frontais (Auba e Lacazette) e Smith Rowe com capacidade de conduzir de fora para dentro, é uma possibilidade que ajuda na progressão.

– Repensar a responsabilidade de Nuno Tavares. A distribuição e dinâmica do Arsenal estava pensada para aproveitar a vantagem que o lateral deveria conferir. Tomou más decisões com bola, não foi preciso nos cruzamentos e parte da superioridade da equipa perdeu-se nas suas acções no último terço.

6 decisões com linha defensiva pela frente – 1 sucesso – 5 insucesso – Taxa 16, 67%

– Não é fácil manter a consistência ao longo de 45 minutos mas à direita o Arsenal perdeu 3 bolas por precipitação quando forçou progressão pelo corredor direito e com jogadores diferentes.

– Dos 6 cruzamentos efectuados no último terço, 2 tiveram sucesso e foram únicos que envolveram um jogador enquadrado com a linha defensiva. Sem surpresa, quanto melhor trabalhada é a posse, mais hipóteses de sucesso tem o cruzamento

Possibilidade de aumento da variabilidade do modelo de jogo

Além dos aspectos mencionados é possível verificar o seguinte: o Arsenal realizou 6 cruzamentos tendo em conta esta métrica. 2 acabaram em colegas dentro da área.

Por outro lado, talvez seja importante ressalvar um aspecto de pormenor: na criação de superioridades numéricas no corredor lateral, o portador da bola não tem o hábito de conduzir e fixar o defesa mais próximo com a intenção de o receptor do passe ter mais espaço com bola

Não obstante, gostaria de destacar um aspecto que poderá aumentar a eficácia ofensiva. Quando se tem somente uma linha de 5 pela frente e um jogo lateralizado uma boa solução poderá ser movimentos de ruptura no espaço entre central e ala e/ou no half space com a bola de fora para dentro. Existiram poucos movimentos destes e quando houve raramente foram reconhecidos pelo portador da bola. Apenas em uma ocasião Smith Rowe fez este passe para Saka mas o inglês já tinha pressão nas costas e não conseguiu enquadrar. Foram identificados 5 momentos distintos em que a bola poderia ter entrado nesse espaço ou um movimento de colega era proveitoso mas em nenhuma situação se verificou a procura desse passe

Fugindo ligeiramente da métrica proposta mas relacionada, o Arsenal pode e deve melhorar bastante a definição no espaço entre linhas. Ganhou vantagens numéricas e espaciais nesta métrica mas foi incapaz de aproveitar devidamente

Anexos video:

Métrica com sucesso

Métrica com insucesso

Aumento variabilidade de jogo

Sobre Lahm 42 artigos
De sua graça Diogo Laranjeira é treinador desde 2010 tendo passado por quase todos os escalões e níveis competitivos. Paralelamente realiza análise de jogo tentado observar tendências e novas ideias que surgem no futebol. Escreve para o Lateral Esquerdo desde 2019. Para contacto segundabola2012@gmail.com

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