Controlo defensivo através do sistema – A primeira parte que assustou o leão

“Até lá, o Sporting não tem uma grande ocasião de golo. Tem a bola, porque a demos, porque optámos por defender mais baixo, o domínio, consentido por nós.”

Paulo Sérgio

Uma coisa é certa: em geral toda a gente sabe como o Sporting joga. O modelo de jogo da equipa de Ruben Amorim já foi extensivamente escrutinado pelos adversários, por analistas, pela imprensa, por nós. No entanto, pelo menos a nível das competições nacionais, continua a ser muito difícil de parar e o leão segue numa série de resultados impressionante: seja pela largura que o modelo confere pelo posicionamento dos alas, seja pelo desconforto que os movimentos do trio da frente colocam sobre a linha defensiva (alternância constante de apoio/rotura), seja pela variação da construção (3+1 ou momentos em que Palhinha baixa para o lado de Coates com saídas a 2+2). E se a maioria das equipas tenta controlar a dinâmica ofensiva dos leões pelos princípios (ou aplicando uma forte marcação individual no campo todo como o SL Benfica tentou no sentido de impedir que se jogue de frente ou uma zona pressionante sobre o corredor da bola impedindo variação para corredor contrário como tentou o Gil Vicente numa fase inicial), o Portimonense de Paulo Sérgio criou sérios problemas ao líder do campeonato ao tentar controlar o ataque dos leões através do sistema – sobre este conceito o treinador do Palmeiras, Abel Ferreira, já falou por diversas vezes, ficando aqui um áudio com a explicação do próprio:

Abel Ferreira, sobre “defender com o sistema”

Para tal, em organização defensiva a equipa algarvia alinhou praticamente num 1-6-3-1, com o ponta apenas a condicionar mas a tentar no mínimo evitar variações pelos centrais, trio do meio-campo em superioridade em relação à dupla do Sporting, com dois interiores a encostar nos dois médios leoninos e um médio defensivo em cobertura para vigiar os movimentos de rotura de Matheus pelo corredor central (meio-campo em 1+2) e a linha defensiva de 6 elementos com os alas a saltar nos alas, os centrais exteriores com liberdade para avançarem na marcação aos avançados interiores do Sporting e situação de 2v1 com os dois centrais “centrais” a controlarem o ponta (com um a encostar no caso dos movimentos de apoio, frequentes, de Paulinho).E é de acreditar que os analistas de alguns adversários do Sporting, ao rever este jogo, se sintam tentados em simular a estratégia e é possível que não seja a última vez esta época que os leões terão de defrontar uma linha de 6…


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Sobre Juan Román Riquelme 97 artigos
Analista de performance em contexto de formação e de seniores. Fanático pela sinergia: análise - treino - jogo. Contacto: riquelme.lateralesquerdo@gmail.com

3 Comentários

  1. Defendendo com uma linha de 6 assume se que se joga para o pontinho. O portimonense foi altamente eficaz, três remates a baliza dois golos (contabilizando o auto golo).

    Poderá voltar a acontecer é certo mas o Sporting estará melhor preparado, sendo mais provável uma maior variabilidade de movimentos ofensivos e menos provável sofrer dois golos.

    Acrescento que Ugarte (e Bragança) oferece mais ofensivamente que Palhinha e o facto do adversário ter que condiionar dois médios ofensivamente e não apenas um (Caso de ontem) pode também dificultar o jogo ao adversário do Sporting.

    Parabéns pelo vosso trabalho, keep pushing!

  2. Defender com muitos é defender bem? Neste caso sim, e foi evidente que o sistema implementado por Paulo Sérgio foi bem trabalhado e executado.
    Mas…
    A estratégia passou exclusivamente por defender, explorar a profundidade de Candé (e Esgaio passou muito mal – lance no início da segunda parte após canto do Sporting e limpo por Palhinha é exemplo disso) e dar a bola a Nakajima.
    É verdade que o Sporting foi surpreendido mas a equipa adaptou-se.
    Chaves:
    1) progressões de Matheus Reis obrigava interior ou central exterior a saltar no portador, abrindo clareiras nas linhas. Algo que podia acontecer no lado direito do ataque do Sporting mas Inácio não tem pé direito, nem sobe tanto. Em caso de aperto extremo Esgaio seria opção nesta posição, criando os mesmos problemas que Matheus criou (mas o lateral esteve mal, espero que não sejam efeitos do covid)
    2) entrada de Bragança trouxe maior velocidade e fluidez na circulação da bola, aproveitando os espaços criados pelos 3 da frente para fazer chegar jogo à área adversária.
    É evidente que o Portimonense criou problemas (ofensivos) ao Sporting mas as equipas que quiserem enveredar por esta opção podem não ser tão felizes como o Portimonense. Escolher dar a bola ao adversário e defender pressupõe um grande rigor defensivo, algo que pode ser contraproducente.
    E neste jogo não houve Porro, muito mais capacitado para aproveitar situações 1v1 na ala.

    Continuação do ótimo trabalho que vêm realizando!

  3. Considero esta resposta do Portimonense muito inteligente e bem trabalhada, no ataque apresentaram movimentos muito evoluídos. Para o futuro penso que existira uma contra resposta do Amorim. Provavelmente foi a primeira vez que o sporting trabalhou algo no treino que não encontrou no jogo. O antídoto está a ser trabalhado.

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