A Identidade de Nelson Veríssimo

A alteração no comando técnico do Benfica ocorreu há já dois meses e depois de duas alterações de sistema e de alguns resultados menos animadores pelo meio, a identidade de Nelson Verissimo parece começar agora a revelar-se.

O 442 que implementou quando assumiu o cargo de treinador da equipa principal do clube deu lugar ao 433 que já utilizava desde início na equipa B encarnada. Ao longo destes 8 jogos, a equipa apresentou regularmente posicionamentos e comportamentos ofensivos audazes e que demonstravam que Nelson traria um melhor jogo posicional, mais jogadores entre linhas e maiores envolvimentos em criação face ao que havia sido comum até à sua entrada.

Na vitória sobre o Tondela ficaram visíveis várias intenções do novo 433 encarnado:

  • Jogo posicional. Numa zona mais baixa a equipa apresenta-se em 4+1 na construção, com interiores dentro, extremos fora e o 9 na frente. Já instalados em meio-campo contrário, a construção transforma-se em 2+1, os laterais projetam-se empurrando para dentro os extremos e aumentando o número de jogadores entre linhas e em criação. Paulo Bernardo goza de maior liberdade de movimentos, podendo por vezes baixar para construir.
  • Triângulos de corredor lateral em criação. Apesar dos muitos jogadores por dentro, lateral, interior e extremo formam sempre triângulos em corredor lateral para combinar e entrar em zonas de último passe ou remate. Tanto de um lado como de outro, a rápida formação deste triângulo em criação facilita a obtenção de contextos favoráveis para acelerar.
  • Sociedade Grimaldo e Everton. Já aqui foi mencionada uma dinâmica habitual do corredor esquerdo do Benfica e o crescimento de Everton com o novo treinador (ver aqui). A verdade é que o brasileiro se posiciona muitas vezes por fora e oferece a possibilidade do espanhol se movimentar com e sem bola para dentro, algo que favorece as características de ambos. A relação entre os dois está a crescer e com a sua qualidade individual e entendimento, o Benfica pode criar muito a partir do seu corredor esquerdo.
  • Movimentos de Darwin. Bastante mais forte na profundidade que em apoio ou na área, Darwin tem a missão de esticar o jogo encarnado e a liberdade para o fazer em qualquer corredor. O uruguaio é forte a abrir no corredor lateral, principalmente quando aí encontra espaço para receber e acelerar. Este movimento está acautelado pelo movimento rápido do interior desse lado em acelerar para zonas de finalização. Com este comportamento de Darwin em cair no corredor lateral, a importância de Gonçalo Ramos como interior aumenta, ele que é um jogador com bastante chegada à área e que mantem a presença nesse espaço mesmo sem o 9.
  • Preparação da perda. Numa equipa com tantos jogadores a “correr para a frente” em criação ou finalização, bons posicionamentos na preparação de uma possível perda tornam-se fundamentais. Quando instalados em meio-campo contrário e com a entrada da bola em zonas de criação, o lateral contrário junta-se ao 6 numa primeira linha de equilíbrio, com os centrais atrás, conferindo equilíbrio à equipa e coberturas ofensivas em posse.

Ainda que o Benfica não atravesse um momento animador e que a época esteja longe de ser de sucesso, Nelson Verissimo vai continuando a fazer crescer o seu modelo e o nível de jogo parece ir paulatinamente melhorando. Veremos até onde podem crescer os encarnados.


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