
O FC Porto transmitiu isso. Foram rapazes lutadores, com dose grande de agressividade, jogaram sempre em alta rotação.
José Mourinho
Numa entrevista brilhante sobre FUTEBOL, Sérgio Conceição abre um pouco o jogo sobre o seu trabalho, sobre como modelou a equipa, e são várias as afirmações que valem a pena ser reforçadas, para que se possa entender o jogo, o trabalho do treinador, e o caminho que seguiu.
…sentir os adeptos, aos noventa minutos o som que vem da bancada “Eu quero o Porto campeão”. E aquele último lance tem de ser no limite…
…não chega só a vontade. É preciso trabalhar isso… ver um treino do FC Porto era fabuloso! Uma competitividade incrível! A luta pelo seu lugar, pelo seu espaço. Treinar no limite! Porque só assim podíamos jogar no limite
Consegui incutir ao Sérgio o que lhe faltava… Essa qualidade técnica teve desde sempre, a inteligência de jogo, a qualidade de passe curto ou longo, a forma como ocupa todo o espaço que eu quero para um oito, ele sempre soube interpretar… aquilo que lhe faltava era alguma agressividade, alguma intensidade no jogo, alguma mudança de ritmo…
Sobre o crescimento e a época de Sérgio Oliveira, Conceição acabou por corroborar algo que fomos afirmando como decisivo para que se afirmasse como opção na equipa do FC Porto, e posteriormente ser um dos homens da temporada em Portugal.
Recordo a forma como o Savicevic aqui, se referiu à rotação mencionada por José Mourinho, como um traço do que pretendia na sua equipa Conceição:
“Rotação” ou “Andamento” são termos bastante utilizados pelas pessoas que são ou estão no futebol, e pretendem adjectivar positivamente aquele tipo de jogador que é muito disponível mentalmente para dar de forma mais rápida as devidas respostas ao que o jogo pede. É chegar mais rápido ao espaço a ocupar, seja num posicionamento defensivo ou ofensivo, é chegar mais rápido ao portador da bola, ou às costas de quem pode e vai receber, é chegar mais rápido para cortar uma linha de passe. É um atributo mental, de disponibilidade para, mas que se traduz depois num gesto motor. Tal como tantos outros.
Não está de forma alguma relacionado com aspectos morfológicos – Ter rotação não se relaciona com ser alto ou baixo – Ter muita ou pouca força.
e um exemplo de um jogador com rotação:
Ainda sobre Sérgio Oliveira, recordo a apreciação que dele fiz ao clássico, onde havia destacado tudo o que Sérgio referiu. O que já era do Sérgio, e o aspecto onde cresceu para poder ter a melhor temporada da sua carreira:
Tremendo porque trouxe qualidade em todos os momentos. Agressividade e disponibilidade na transição defensiva, a resolver inúmeros lances logo no centro do jogo, critério com bola nos pés, sempre a decidir rápido e com qualidade técnica elevada para o fazer. Progrediu com espaço, ligou o jogo para as zonas de criação com qualidade, e ainda apareceu em espaços de definição a criar problemas ao Sporting.
Encheu o campo com presença e boas decisões. Eis a performance do jogador azul e branco em maior destaque no clássico:
Sobre o Modelo dos azuis e como Sérgio Conceição tornou o FC Porto campeão, já tudo havia sido dissecado aqui.
Sobre o processo de treino do FC Porto e o que referiu Sérgio Conceição já tinha no programa da TV mencionado o feedback de um jogador dos azuis e brancos, que referiu precisamente a exigência máxima no trabalho diário, e como no médio longo prazo, tal faz bastante diferença para se progredir e cumprir objectivos. Treinar e ir ao treino são coisas substancialmente diferentes, e com Sérgio Conceição ninguém ia ao treino. Uma marca da sua liderança que influenciou positivamente o processo!
Na presente temporada, Sérgio Conceição não aproveitou somente as características dos seus jogadores. Potenciou-as, integrando-as num modelo bem pensado em termos de posicionamentos. Mesmo num jogo que privilegiou as chegadas rápidas, e traços físicos dos seus atletas, o modelo ofensivo de Sérgio teve e tem as ligações entre fases, para que a bola progrida de forma inteligente.
Aliou organização à qualidade do trabalho, e a um modelo muito bem desenhado. E a qualidade do que construiu ficou bem perceptível logo na pré temporada.
Todos os treinadores têm um modelo que podem gostar mais ou menos, mas temos de variar o nosso gosto dependendo das características dos jogadores que temos à nossa disposição…
Sobre a construção do modelo, para que não sobrem dúvidas, é importante perceber:
O Modelo de jogo tem uma relevância muito grande… é uma espécie de antecipação do que pretendemos com princípios e tendências do que queremos que surjam nos diferentes momentos do jogo. O modelo pode ajudar a essa construção, mas não determina o processo. Muitas vezes aprendemos que os jogadores mudam o modelo, e o vão reconstruindo…
Júlio Garganta
Quantas vezes se tende a criticar um treinador porque quando jogam jogadores diferentes há comportamentos diferentes? Quando na realidade, tal é a marca do melhor modelo. A integração do que cada um pode e consegue trazer para o jogo da equipa. Porque os jogadores não são robots, há um sem número de vivências e características próprias que trazem que são “cunhos” pessoais que devem ser aproveitados, ou escondidos e protegidos se se tratarem de debilidades. Um modelo de jogo não pode pedir o mesmo a dois jogadores diferentes que se revezam na titularidade ou no jogo, se eles não são jogadores iguais. Embora defensivamente seja mais fácil modelar do que ofensivamente…
O modelo de jogo não é uma espécie de uma base de puzzle perfeito onde apenas se tem de encaixar as peças. É algo que tem de se sistematizar aproveitando as características de cada peça. É algo que se constrói e que não está anteriormente feito! Mesmo nos clubes mais ricos que podem satisfazer todo e qualquer pedido de transferência dos seus treinadores, tal é falível, porque o próprio treinador só percebe verdadeiramente o que pode e “quer” dar cada elemento depois de trabalhar com ele!
temos de ser criativos para conseguir o equilíbrio entre o que os jogadores fazem e o que nós queremos para a equipa…
Júlio Garganta
A base para vencer é ser uma equipa compacta com bola e sem bola
Quando estamos a atacar se calhar os mais importantes não são os atacantes são os defesas… a melhor definição de equipa é quando em determinada situação, toda a gente dentro da equipa sabe o que se vai fazer ou o que se vai passar. Havia um grande conhecimento das tarefas, tanto com bola como sem bola.
Jogando com muitos avançados posso não ser ofensivo, e jogando sem avançados, posso estar a ser muito ofensivo
Em termos gerais a palestra é dada por mim, as imagens metidas pelo Dembele, mas depois cada um no seu quarto pode ir ao link, e nós temos acesso e sabemos quem é que vai ver… [sobre as análises aos adversários]
Sobre o jogo e os métodos de trabalho, pese embora não tenham sido abordados muitos aspectos técnicos e tácticos do jogo.
Triunfar numa prova de regularidade implica competência em três vertentes fundamentais. Modelo e Estratégia, Processo de Treino e Liderança. Sobre tudo falou Sérgio Conceição, ainda que não tenha sido questionado ao pormenor. E ele que estaria disponível para dissecar ainda mais a forma como fez do Porto campeão!
Boa tarde. Posso não ter visto bem, e se assim foi, peço desculpa, mas tens link para essa entrevista do Sérgio Conceição?
A entrevista foi dada ao Porto Canal, se não estou em erro na quarta-feira passada! Não temos acesso ao video!
Gil, youtube. .. s.c porto canal. aparece de certeza. vale a pena ver! embora nao o tenham espremido mt ele abriu muito o jogo.
Rotativos, intensos, agressivos. Transições. Verticais.
Saber o que tinha e preferir assim?! Propor e saber fazer.
Talvez por isso, depois a dificuldade para abrir e furar contra blocos baixos e compactos. Conseguir meter variabilidade.
Com mais qualidade individual, quereria diferente? No actual, saberia diferente? Para evoluir aprendendo e apreendendo.
Obrigado malta