
O potencial é o nível máximo a que um jogador pode aspirar. Significa portanto que é raro que alguém atinja todo o seu potencial. O crescimento de um jogador dá-se sobretudo pelas suas vivências e o impacto que o meio envolvente tem em si.
Há uns tempos referia ser impossível voltarmos a ter um campeão Europeu da Liga NOS, porque mesmo mantendo os jogadores de potencial mundial que vão chegando do futebol formação, estes só atingirão um rendimento elevadíssimo e de forma constante, se forem consecutivamente expostos a contextos que lhes tragam dificuldades.
Desde o Europeu de futebol jovem que participou, e onde teve momentos de puro brilhantismo que se percebia o potencial do jovem português. A questão seria, como em tantos outros casos, como cresceria e se os momentos de brilhantismo passariam a ser uma constante ao longo de todo o jogo, não numa espécie de cada bola, cada truque, mas antes num jogo sem erros, sem perdas, e com o tal brilhantismo a surgir como a “cereja no topo do bolo”.
Confesso que não esperava que Bernardo viesse atingir tal nível, a cumprir tanto do prometido potencial. E se o cumpriu há dois factores que me parecem absolutamente determinantes.
A) a sua personalidade. Jogadores como Bernardo encontram mais dificuldades do que outros para triunfar. O talento é imenso, mas em determinados momentos experenciam o insucesso. E é aqui que demasiadas vezes muitos dos talentos provenientes de um extrato social “diferente” quebram. Habituados ao mimo, e à bajulação fácil e não desinteressada, tendem a acreditar que quando o insucesso chega, seja em forma de erro no treino / jogo, seja em forma das opções dos seus treinadores, a culpa e o problema está nos outros. Abrandam, treinam mal, ficam apenas a lamentar-se de conspirações cósmicas que simplesmente não existem, e ainda conseguem relacionar-se mal com todos os outros intervenientes. Bernardo é o jogador que é, pelo homem que será. Não tenho a menor dúvida.
B) o seu percurso. Ter saltado para a Liga Francesa foi uma decisão, porventura, difícil, mas deu-lhe muito tempo de jogo num contexto de dificuldade bastante superior à liga NOS. Jogo mais rápido, contra melhores jogadores. Para além do importantíssimo trabalho semanal… também no meio e contra melhores jogadores. A chegada ao City e às mãos de Pep Guardiola potenciou-o até ao nível galáctico a que se encontra na actualidade. Não é apenas por ter um treinador que trabalha de forma extraordinária. É o próprio contexto da Premier League, teoricamente pouco dado a jogadores da sua morfologia. Contudo, é na adaptação que se dão as melhorias e o crescimento. Num jogo mais rápido, contra adversários ainda melhores, a Bernardo foram dadas condições para chegar ao nível a que está na actualidade, e que não menos é que estratosférico.
É só pena de ver este fenómeno jogar ao lado de Fernandinhos e Sterlings… Ele merecia jogar com Sergios e Messis… (“ADN Barça” como diz o Xavi!) 😉
Bem, também não podemos ser assim injustos na análise. O City joga como joga e com tanta bola pq tem um Fernandinho. Aquele jogo com o Liverpool é exemplo. Na reação a perda o Fernandinho e muito bom e pressiona e recupera logo nos 2/3 segundos seguintes. Mais ou menos como o Fejsa fazia quando o Benfica tinha uma boa organização. Quando o Fernandinho não está, o City e outra coisa. Muito mais permissivo. Se ele não estivesse lá, possivelmente o silva e outro silva não poderiam encostar na linha e receber fora nem chegar tão a frente. E além disso o Fernandinho não tem dois tijolos, está ao nível dele acho.
Sobre Fernandinho,o Nuno fez(como de costume)uma excelente análise:
https://www.lateralesquerdo.com/2017/10/19/o-jogador-voluntarioso/
No lugar do brasileiro ia buscar um Rúben,um William ou melhor.. Frenkie De Jong!
Calma. Busquets é Busquets e faz parecer melhor qualquer um que o rodeia porque faz parecer mais fácil. Mas Fernandinho é top. Mas isso não invalida que não suspire por ver De Jong ali..
O ponto B podia ser substituido por: Ter fugido do JJ.
Não quero ser chato mas, neste caso especifico do Bernardo, não concordo totalmente com o ponto b. O miudo aos 19 anos já tinha dentro dele o futebol que mostra hoje.
Qd o vi pelas primeiras vezes disse logo: este miudo é um geniozinho (obvio) mas so vai ter maturidade fisica suficiente para assumir o meio, que é a posição dele, qd tiver 23 ou 24 anos. Porque na altura já ele se fartava de lutar, de correr (ou tentar), defendia como atacava, tentava jogar no campo todo, etc. A personalidade dele e a sua paixão pelo futebol leva-lo-iam sempre a este nivel, mesmo que tivesse ficado na liga portuguesa, no Benfica. É claro que o Jardim foi importante para ele, primeiro porque lhe deu minutos e kms, que era o que ele precisava, e segundo porque o protegeu desviando-o para a ala.
Não é que não tenha tido alguma influencia o ter jogado em ligas mais competitivas, tem sempre alguma, mas pela sua personalidade e pelo que expliquei atrás (na minha opinião, claro) penso que o BS chagava lá de qualquer maneira.