Modelando – O Alto Rendimento, Adaptação e Sensibilidade

Vitor Pereira deu uma autêntica lição na Associação Nacional de Treinadores de Futebol, que me fez recordar algumas das ideias chaves que fui procurando passar nos últimos anos, sobretudo depois de experiências práticas mais vincadas no futebol feminino, onde conquistámos 5 troféus nacionais (2 campeonatos nacionais, 2 taças de Portugal e uma Supertaça), e que serviram para perceber possibilidades e impossibilidades do que teorizava.

A teoria sem a prática vira verbalismo
Paulo Freire

Ao contrário do que por vezes ainda é crença na recreação, quando se trata de Alto Rendimento o melhor Modelo nunca é produto somente da ideia do Treinador. Capacidade de Adaptação e Sensibilidade, são provavelmente os dois traços mais importantes de um treinador bem sucedido.

Quantas vezes se tende a criticar um treinador porque quando jogam jogadores diferentes há comportamentos diferentes? Quando na realidade, tal é a marca do melhor modelo. A integração do que cada um pode e consegue trazer para o jogo da equipa. Porque os jogadores não são robots, há um sem número de vivências e características próprias que trazem que são “cunhos” pessoais que devem ser aproveitados, ou escondidos e protegidos se se tratarem de debilidades. Um modelo de jogo não pode pedir o mesmo a dois jogadores diferentes que se revezam na titularidade ou no jogo, se eles não são jogadores iguais. Embora defensivamente seja mais fácil modelar do que ofensivamente…
O modelo de jogo não é uma espécie de uma base de puzzle perfeito onde apenas se tem de encaixar as peças. É algo que tem de se sistematizar aproveitando as características de cada peça. É algo que se constrói e que não está anteriormente feito! Mesmo nos clubes mais ricos que podem satisfazer todo e qualquer pedido de transferência dos seus treinadores, tal é falível, porque o próprio treinador só percebe verdadeiramente o que pode e “quer” dar cada elemento depois de trabalhar com ele!

Pedro Bouças, Outubro de 2017 (aqui)

Já quando é o resultado que está em causa, trata-se de potenciar virtudes e esconder defeitos. Aproveitando características do jogador. Modela-se em função do jogador!
As ideias são e virão sempre do treinador, mas tem de haver uma adaptação deste à individualidade.
Há algum tempo atrás, recordo as críticas a um treinador porque, segundo os adeptos, este não tinha modelo, porque quando jogavam jogadores diferentes, os movimentos dos jogadores da mesma posição eram diferentes.
Refutei, porque na verdade, este é o fundamento para o melhor trabalho de “modelação” dos treinadores. O que não tem sentido é colocar jogadores sem capacidade para determinadas acções a executá-las, porque o modelo é rígido! Trará insucesso ao jogador, e consequentemente à equipa.

Pedro Bouças, Dezembro de 2018 (aqui)

Sempre que por cá mencionei o caminho correcto para o modelar, fui deixando de fora um por cento do total dos contextos. Aquele um por cento, em que os treinadores porque têm possibilidades infinitas, podem escolher a dedo com quem pretendem trabalhar. Nesse caso, é possível escolher para encaixar exactamente no que preconizo sem ter de fazer uma única adaptação.

Pedro Bouças, Dezembro de 2018 (aqui)

Talvez não seja fácil entender, mas não há um só futebol. O facto de o Barcelona ter provado algo ao mundo, não significa que esse caminho seja possível para todos, e até o melhor para todos! Era o caminho possível e o melhor para o contexto Barcelona. Entenda por contexto atributos e qualidade de todo o seu onze!

Pedro Bouças, Abril de 2018 (aqui)

Para Júlio Garganta:

O modelo de jogo é um mapa. Não é um território! Há que negociá-lo com os jogadores.


O modelo de jogo não pode nunca ser unicamente fruto da ideia de jogo do treinador. Tentar impor tal grau de rigidez é regra geral o primeiro caminho para o insucesso, até porque tal é inalcançável.

Pep Guardiola, tantas vezes mal interpretado:

Quando cheguei a Munique tentei perceber a qualidade dos jogadores e deixei-os jogar para perceber o que podiam dar. E depois tentei perguntar aos jogadores o que conseguem fazer. O maior erro seria fazer: Sou o Pep e eles têm de jogar assim e este tipo tem de fazer este movimento… e ele não é capaz de fazer o movimento… mas se calhar consegue fazer melhor noutra posição… estou convencido que o mais importante é perceber a qualidade dos jogadores e ajudá-los a colocar essa qualidade ao serviço da equipa

O que podes melhorar depende das dinâmicas e da qualidade dos jogadores. Na última época jogamos sem lateral (esquerdo), e agora temos o Mendy, por exemplo. O Mendy tem energia para subir e descer várias vezes… assim podemos atacar de outra forma! Algo que não pudemos fazer na última época… Podemos construir com 3 ou com 4, depende da qualidade…

E Luís Castro:

Quando não for possível, quando verificar que o plantel não dá para o fazer, temos de optar por outro caminho, pois também o faremos, mas já o farei a violentar-me um pouco mas é a minha profissão e muitas vezes nós temos de percorrer caminhos que não defendemos a 100 por cento, mas que para rentabilizar alguns plantéis temos de o fazer porque acima de tudo as instituições querem é ganhar e nós temos é de dar vitórias
Luís Castro

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Sobre Paolo Maldini 3828 artigos
Pedro Bouças - Licenciado em Educação Física e Desporto, Criador do "Lateral Esquerdo", tendo sido como Treinador Principal, Campeão Nacional Português (2x), vencedor da Taça de Portugal (2x), e da Supertaça de Futebol Feminino, bem como participado em 2 edições da Liga dos Campeões em três anos de futebol feminino. Treinador vencedor do Galardão de Mérito José Maria Pedroto - Treinador do ano para a ANTF (Associação Nacional de Treinadores de Futebol), e nomeado para as Quinas de Ouro (Prémio da Federação Portuguesa de Futebol), como melhor Treinador português no Futebol Feminino. Experiência como Professor de Futebol no Estádio Universitário de Lisboa, palestrante em diversas Universidades de Desporto, Cursos de Treinador e entidades creditadas pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). Autor do livro "Construir uma Equipa Campeã", e Co-autor do livro "O Efeito Lage", ambos da Editora PrimeBooks Analista de futebol no Canal 11 e no Jornal Record.

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